Pretendo lembrar algumas das angústias suscitadas pela prática clínica no médico e como muitos deles, desde nossos primeiros romancistas, parecem haver tentado elaborá-las em suas criações literárias. Em contínuo contato com a fragilidade humana (doença, dor, desespero, miséria, morte) e sob a pressão das responsabilidades inerentes à profissão, o médico necessita lidar com suas amargas frustrações e ansiedades para poder conseguir uma integração psíquica. Criações ficcionais, tendo médicos como protagonistas, podem haver servido claramente à elaboração dessas ansiedades por seus autores, assim como contribuirão para elaborá-las em seus leitores. "Nevoeiro denso" e outros contos de Cyro Martins e de Tchecov são recordados sob esse prisma, a partir de conceitos expressos também em "A criação artística e a psicanálise".

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* Médico Psicanalista e Escritor