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Sobre Perspectivas da Relação médico-paciente  E-mail
Fortuna Crítica - Artigos

 

                                                 Cyro Martins e Colaboradores - reedição de 2010

                                                                                 PREFÁCIO

                                                                                                      Ellis D´Arrigo Busnello *

Em uma edição comemorativa pelos seus 30 anos de existência, o atual Grupo A - antiga Editora Artes Médicas -, relança, revisita e revitaliza o livro organizado por Cyro Martins, Perspectivas da Relação Médico-Paciente.

Nesta obra, conforme o próprio Cyro Martins nos orientava, fica patente sua filosofia de que são as nossas concepções humanísticas que determinam nossas relações com as pessoas a quem prestamos serviços.  Ou seja, em palavras mais amplas, com as pessoas, com os grupos humanos e, por extensão, com a humanidade, com os quais, por vocação e por postura profissional, assumimos o compromisso e o dever de cuidar e de preservar.

Cyro dos Santos Martins foi líder inconteste em nosso meio literário, médico, científico, político e social, e, por sua postura pessoal, muito contribuiu para a preservação, o crescimento e o desenvolvimento da inteligência e da visão de mundo dos grupos médicos e de profissionais da saúde, bem como de seus pacientes, de seus alunos e de seus leitores. Uma das formas, através das quais utilizou sua influência para essa tarefa de humanização do homem, foi mediante a compreensão maior de como se pode estabelecer uma melhor relação médico-paciente, como exercício prático para o desenvolvimento de uma postura humanística nas naturais relações entre os homens.

É assim que se vê a edição comemorativa desta obra, com a sua instigante peculiaridade, pois que dos médicos e da leitura de seus capítulos originais - escritos no significativo espaço de tempo de trinta anos e agora acompanhados de sua reescritura pela maioria de seus autores - muito temos a aprender. O relato do que eram preocupações e dos problemas que compareciam nas relações com seus pacientes à época mostram as formas e as dificuldades que surgiam no estabelecimento de pontes entre médicos e pacientes.

A riqueza das leituras de uns e de outros é que mostra como essa experiência inédita de confrontar pensamentos de trinta anos atrás sobre um mesmo tema - a relação médico-paciente- enseja repensá-lo e permite avaliar o quanto houve de mudanças sensíveis na maneira de considerar essa relação. Durante esse espaço de tempo houve grandes transformações e a ciência médica está progredindo mais do que previa a atitude pessimista que transparecia nos ensaios de então.

É do conhecimento de todos que os anos que passaram foram ricos em disseminação de conhecimentos sobre grandes problemas de saúde, os principais deles relacionados com a revolução cultural dos anos de 1970. A revolução sexual diminui a natalidade, com a popularização do sexo seguro através do uso da pílula anticoncepcional e dos preservativos. A epidemia da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida reforçou a prevenção de doenças infecciosas sexualmente transmissíveis, refletindo-se também sobre o controle da natalidade. No seu bojo, facilitou a universalização e campanhas de controle de enfermidades infecciosas, como a varíola, por agentes imunizantes. A explosão demográfica e o problema da fome foram enfrentados através de intervenções das Nações Unidas e suas ramificações na área da Saúde (OMS), da alimentação (FAO) e da cultura (UNESCO).

As tecnologias de alta sofisticação introduzidas na prática médica corrente atingiram em grandes espaços do mundo o caráter de rotina. As cirurgias com circulação extracorpórea, as diálises para suprir deficiências da excreção renal, os transplantes de órgãos, enquanto até 1970 eram exceções, atualmente adquiriram um caráter rotineiro. Em nosso país, a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) foi-se reorganizado com uma nova porta de entrada, as Unidades Básicas de Saúde (UBS), com todas as dificuldades que um programa de tal monta significa. A figura do médico de família, à época vista como em extinção, foi reintroduzida como especialidade-chave para o acesso ao Sistema.

Muitas ideias, crenças, conhecimentos e conceitos mudaram, e com eles muitos enfoques, comportamentos e atitudes sofreram pequenas e grandes modificações. Será muito rico vermos, nesta nova edição, o que um expressivo número de autores pôde retomar acerca desse tema ao final da primeira década deste milênio.

A reedição desta obra, além, de sua importância histórica, é também inspiradora. Rever as posições dos médicos em suas relações com os pacientes em oportunidades diferentes contribui sobremodo para esclarecermos o singular momento em que o médico estabelece o seu contato com o paciente. Aprendemos com os grandes mestres ser essa a instância em que se dá o encontro entre “uma confiança que se entrega a uma consciência”, achado precioso que nos foi transmitido pelos patronos de nossa carreira, Cyro Martins e José Leme Lopes.

Por fim, a edição comemorativa do livro Perspectivas da Relação Médico-Paciente tem uma importância bem maior do que uma simples homenagem àquela realização de 1981. Ela nos permite entender como o conhecimento vai abrindo seus caminhos e chega até a atualidade, realizando avanços cada vez maiores em direção a sociedades mais saudáveis, onde homens pautem o seu dever de trabalhar para que a inteligência ocupe os espaços em que se instala a ignorância, a civilização triunfe sobre a barbárie e a saúde física, mental e social, sobre as doenças também físicas, mentais e sociais.

Nos textos deste livro, sobre importantes temas das diversas especialidades médicas, encontram-se pérolas que não poderão passar despercebidas pelos leitores, que, vivendo nesses tempos modernos, poderão estimar os progressos havidos e projetar os que ainda estão por vir.

A riqueza dos ensinamentos colhidos na reedição que nos coube prefaciar nos colocou no dever de despertar a atenção para este tipo de publicação que compara épocas de exercício profissional sob o pretexto de revisá-las na perspectiva de um mesmo tema. A Medicina e a Ciência, de uma parte, e as relações humanas, de outra, saem engrandecidas nesta obra e nos levam a sugerir que nos anos 2040 outro grupo de profissionais retome as questões aqui abordadas.

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* Ellis D’Arrigo Busnello - Médico, Psiquiatra, Livre Docente e Doutor em Ciências pela UFRGS,

Mestre em Saúde Pública pela John Hopkins University,

Psicanalista pela Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, Professor Emérito pela UFRGS.