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Fronteiras Culturais - Artigos

 

Donaldo Schüler *

Que dizer de um evento que reúne personalidades de diversos países e de dois continentes para refletir sobre fronteira? A Europa lembra feridas antigas. Ódios que por séculos ensangüentaram o Velho Continente atravessaram os mares ao tinir de espadas e ao fragor de canhões. Homens sequiosos de dilatar fronteiras avançavam por terras de ninguém. De ninguém? A conquista tratou de limpar o território. Os que resistiam tombavam aos milhares, aos milhões até que territórios violentamente despovoados acenavam com a promessa de riquezas. Quem diz fronteira não esquece o sentido militar que impregna o termo desde as origens.

 

No caldeirão da conquista congregaram-se caoticamente muitas etnias. Brancos e negros, armados ou munidos de ferramentas chocam-se e se misturavam com os primitivos bandeirantes. No correr dos anos o território foi se cobrindo de exploradores, mercadores, fazendeiros, peões, soldados, bandoleiros. Peles de cores diferentes se misturavam para gerar novos matizes. O confronto traçava linhas divisórias instáveis. Quando marcos fronteiriços se definiram não silenciaram os gritos de protesto que lhes deram origem. Monumentos não abafam gritos de guerra, estertores.

 

Olhares saudosos varriam o deserto, imensos espaços despovoados pela conquista. Em lugar do congraçamento, vozes silenciadas, imagens esmaecidas, afrontas, confrontos, avanços, matança.

 

Quem mora na fronteira vive dia a dia o desafio da definição: cá, lá; nós, outros. Além da fronteira reside a ameaça e a sedução. O traço que demarca o território se contorce como ponto de interrogação. O que legitima os marcos da exclusão?

 

Menos rígidas, menos problemáticas, menos dolorosas são as fronteiras culturais. No território dos sentimentos, do pensamento e das artes, alfândegas não barram a circulação de valores. Imagens de hoje misturam-se com lembranças antigas, ritmos atravessam continentes em busca de novas sonoridades, palavras armazenam significados imprevistos, sintaxes se dissolvem e se refazem no embate de novas exigências. Acima da cultura de lá e de cá, alarga-se o território de uma terceira cultura em que o lá e o cá se aproximam amistosamente. Trata-se de uma terceira cultura ou de uma terceira margem. Esta fronteira protege o sonho, o inexplorado, a liberdade. Sem ela como criar, como viver?

 

No livro que abrimos esperam-nos ensaios desbravadores, congresso de vozes amigas, a convergência da oralidade e da escrita, do popular e do erudito, imagens vivas, a alvorada de energias, força para criar o que nos falta.

 

* Donaldo Schüler é Professor Titular do Instituto de Letras da UFRGS  e escritor