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OUTRAS FRONTEIRAS - ALEMÃES NA FRONTEIRA GAÚCHA | Imprimir |  E-mail

Walter Ens


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Sou da 1a. geração, portanto falo e escrevo em Alemão, porém nascido em Santa Catarina, para onde imigraram os meus pais e posteriormente fundaram a Colonia Nova, em Bagé, donde vem o leite IBAGÉ, e já tinha 16 anos. Devido à Segunda Guerra Mundial éramos proibidos a falar em Alemão, mas na nossa região não tinha colégio em português, e falávamos a linguagem materna, e se tornou muito difícil a nossa situação.

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Apesar de não ser escritor, e muito menos historiador, mas tratando-se de apenas algumas memórias vividas na minha própria vida, seguirei com prazer a responder as suas perguntas sobre os Alemães na Fronteira com o Uruguay.


Área Econômica:

O que despertou os Imigrantes Alemães a comprarem esta fazenda [Colônia Nova], foi a semelhança com as estepes da sua origem (Ucrânia) onde cultivavam principalmente o trigo.

De 1950 para cá, esta região teve um desenvolvimento extraordinário, pois, ainda no Governo do saudoso Presidente Getúlio Vargas, deu incentivos especiais para a implantação, e desenvolvimento do cultivo do trigo, e a Agricultura em geral no Brasil.

Especificamente em Bagé, esta chamada Colônia Nova, (Distrito de Aceguá) teve um desenvolvimento muito grande pela larga experiência destes Imigrantes Alemães, que, com os financiamentos facilitados, e a juros compatíveis, prazos longos, e preços justos do produto, puderam mecanizar as suas lavouras e ter uma produtividade excelente. Mas, ainda no final da década de 50, outros Governos foram abandonando aos poucos, o projeto trigo, obrigando a  diversificarem as culturas, implantando inclusive uma bacia leiteira, instalando uma pequena Indústria de Latocínios. Desta forma, surgiu a Cooperativa Agrícola Mixta Aceguá Ltda. (Camal) Hoje, esta indústria tem a capacidade de industrializar até 100.000 litros de leite diariamente.

A Camal abastece, atravéz do seu Supermercado, todos insumos aos seus Associados, inclusive a assitência técnica.


Área Educação:

Os nossos pais sempre se preocupavam com a educação, instalando nas aldeias, colégios primários, com professores pagos pela própria comunidade. A alfabetização e as demais matérias são dadas de acordo com as leis vigentes do País, agregando aleatoriamente a língua Alemã, e instruções religiosas. Do 2º gr. em diante, a comunidade mantém transporte a Bagé, para seguirem seus estudos, inclusive Universidades. A Comunidade tem profissionais liberais próprios, praticamente em todos os seguimentos, inclusive da saúde.


Área Saúde:

Assim como a educação, também sempre se preocuparam com a saúde, instalando um Hospital de primeiros socorros, bem como uma maternidade, culminando com a construção de um Hospital moderno, recebendo recentemente a classificação de 1º lugar em qualidade da região sul, e 5º lugar do País. Os médicos são filhos dos Alemães. Importante: Receberam auxílio da Alemanha.


Área Social:

Na medida do possìvel, estão continuando com as tradições dos pais, mantendo seus cultos religiosos, (Menonitas) inclusive missões nas redondezas, com diversas Igrejas, onde muitos dos nativos se converteram a esta religião. Com raras exceções, houve casamentos com nativos desta região, existindo já Igrejas Menonitas, mais distantes, formadas somente de nativos. A juventude é muito unida, tendo inclusive seu clube social, e de esportes, como futebol, basquete, volei, etc. mantendo seus Schlüssenband, (espécie de bailes) com suas canções populares Alemães, peças teatraes, coraes e outras, de classe artísticas .

Os nativos assimilaram mais os costumes destes, do que o inverso, em seus costumes, copiando os tipos de residências, trajes, culinária típica etc. A única coisa em que os nativos venceram, foi no churrasco gaúcho, chimarão e criação de gado de corte, que os alemães souberam até aperfeiçoar, havendo hoje criadores muito bem sucedidos, dando até aulas, e palestras sobre pecuária.

Quanto às famílias, pelas explicações acima, já é possìvel deduzir, são muito unidas, pela própria educação que recebem, formação religiosa. Entre eles não existe criminalidade nem desordens, é um povo muito honesto, trabalhador e criativo.

Pois bem, conforme me manifestei no início, escrever, não é o meu forte, sou tecnico mecânico, e tenho a minha empresa no ramo de retificadora de motores e serviço Bosch Autorizado, há 42 anos, e atendo toda região. Mantenho meu cordão umbilical preso na Colônia Nova, atravéz de uma colônia de terras, que não vendo, não troco, sòmente arrendo à um irmão, assim achei uma maneira de não me desmamar de lá! Gosto muito da minha gente, mas por motivos proficionais, tive que adotar esta bela terra de Santana do Livramento, a qual me deu a honra de me conceder o título de cidadão Santanense, com meus 33 anos de residência.

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Alguns relatos que meus pais e sogros (já no  Oriente Eterno), me passaram:

1º - Na época da Inquisição, perseguidos por questões Religiosas , os Menonitas) receberam convite da Katharina II, (Esposa do Tzar da época) para que se fixasassem na Rússia (Ucrânia) onde podiam professar sua Fé, língua, cultura (Alemã) e atividade econômica, com segurança e total liberdade.

2º - Com a guerra civil, e imposto o regime comunista, (viveram durante 12 anos neste regime), Stalin concedeu àqueles que não concordavam com este regime a saída da Rússia. Além dos milhares de inconformados, também os Alemães Menonitas resolveram abandonar aquele inferno. Só que, no dia seguinte fecharam tudo, e nossos parentes e outros, foram separados das famílias, e remetidos à Sibéria.

3º - A Alemanha recebeu seus filhos de volta, mas como não tinha condições e espaço suficientes, acomodou-os em outros Países, e meus pais escolheram o Brasil (Santa Catarina) onde, já casados, em 1929, fundaram a colônia de Witmarsum (no município de Ibirama).

4º - Durante 20 anos de progresso, e muito sacrifício, [viveram] nas serras e morros de SC. Porém , acostumados com as estepes Ucranianas, descobriram, através da Brasilpost (Jornal brasileiro, editado em Alemão, de São Paulo), uma fazenda com área de aproximadamente 2200 ha à venda. Imediatamente seguiu uma comitiva,( entre eles também o meu pai) para examinar as condições e viabilidades econômicas. Fecharam negócio.

5º - Assim, em 1950, surgiram os Alemães Russos na fronteira, (Aceguá, recentemente emancipado de Bagé) espalhando-se por estes Pagos.

6º - Prezada Maria Helena, este é apenas um resumo, da História. Vale à pena de se aprofundar mais, temos informações preciosas sobre esta minha gente, pois, para adiantar alguma coisa, posso dizer que é o verdadeiro exemplo de Reforma     Agrária, contrário daquilo que está sendo praticado aí, politiqueiramente!!!

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- Depoimento enviado por mails entre junho e dezembro de 2002.