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Cone Sul: fluxos, representações e percepções | Imprimir |  E-mail

Resenha de Albert Von Brunn*


Rivera está situado na fronteira uruguaia lindando com Santana do Livramento (RS). Entre as duas cidades há uma praça chamada Internacional e uma rua ampla, a Avenida Sarandi, um lugar de namoro para a juventude do lugar. Esta avenida, “tão importante para as relações internacionais, foi capaz de desafiar e derrotar uma regra elementar de trânsito, que proibia aos motoristas dos automóveis de trafegar aí muito lentamente. Ora, passar lentamente foi considerado fundamental para a paquera, logo, impossível aplicar essa lei. A Sarandi pode ser visto como um símbolo do Mercosul”(p. 11). As organizadoras do congresso, ambas profundas conhecedoras da realidade sulina e, em especial, da zona fronteiriça entre o Rio Grande do Sul e as repúblicas platinas, apresentam neste livro os resultados de um simpósio internacional, realizado pelo CELP Cyro Martins e pela Cátedra de Literatura e Cultura Brasileira da Universidade Livre de Berlim em Porto Alegre (2004).

A primeira parte é dedicada ao estudo dalguns dos principais ícones da cultura gauchesca. Anônio Hohlfeldt (pp.21-71) traça um sugestivo panorama do gaúcho como tipo social, Lígia Chiappini (pp.72-90) evoca o diálogo hipotético entre dois escritores fronteiriços – João Simões Lopes Neto e Javier de Viana - e Léa Masina (pp.109-119) se debruça  sobre o regionalismo sulino nas figuras de Alcides Maya e Eugenio Cambaceres. O ensaio mais instigante desta primeira parte talvez seja o trabalho de Denise Vallerius de Oliveira (pp.143-156) sobre a identidade fronteiriça nos contos de Jorge Luis Borges: todo mundo sabe que o protagonista dos tais contos é o orillero, o homem da periferia portenha que não habita nem o campo nem a cidade. Tomando como ponto de partida El Sur (1944) , a narração mais autobiográfica do autor argentino, Denise mostra como o protagonista Johannes Dahlmann é, ao mesmo tempo, uma personagem emblemática e o alter ego do autor: em sua personalidade convivem a herança européia (o pastor evangélico) com o avô materno que exterminava os índios. Por trás de Dahlmann, metáfora do homem latino-americano, está o autor camuflado de tradutor e revela “o nacional sem ser nacionalista  e o local sem ser localista” (p.153).

A segunda parte abre com uma panorâmica da mídia no espaço fronteiriço entre Uruguai e Brasil (pp.218-233) e do papel dos imigrantes na cidade de Corumbá/Pantanal, em grande parte construída por três famílias sírias (pp.253-263). Seguimos com um retrato do português brasileiro em relação ao espanhol no Cone Sul (pp. 274-285) e um excelente ensaio sobre a obra jornalística de José Hernández (pp. 286-295). O livro acaba com a história de uma plataforma académica, o Grupo de Montevidéu, universidade virtual para além das fronteiras nacionais (pp.322-329). Como Johannes Dahlmann do conto borgiano, os autores procuram vencer as barreiras lingüísticas e chegar a uma comunidade cultural que é, ao mesmo tempo, um espaço regional e um espaço universal onde tudo é possível, como na Avenida Sarandi entre Rivera e Santana do Livramento.


Borges, Jorge Luis. „El Sur“ en: Obras completas. Vol. I, Barcelona: Emecé, 1996, pp. 524-529.

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Albert Von Brunn é Administrador do acervo português e brasileiro da Biblioteca Central de Zurique; escreve regularmente sobre literatura brasileira e portuguesa.