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V FÓRUM SOCIAL MUNDIAL | Imprimir |  E-mail

26 a 31 de janeiro de 2005 - Porto Alegre - RS - BRASIL


Panorâmica do Acampamento no Parque da Harmonia,
junto ao Guaíba, em Porto Alegre


Reitera-se neste V Fórum Social Mundial um outro mundo é possível”. Fica evidente o objetivo de apresentar experiências e idéias que constituam propostas efetivas para a construção de um mundo que permita aos cidadãos “apropriarem-se de seu futuro”.


Confiantes na contribuição que os projetos Fronteiras Culturais em Livramento (BR) e Rivera (UY) e Práticas Comunicacionais nos Espaços de Fronteira podem dar para essa transformação, fomos apresentá-los no Espaço temático C- Arte e Criação, do Fórum, no 28 de janeiro.



CULTURA E IDENTIDADE FRONTEIRIÇA:
O CASO GAÚCHO/GAUCHO

1. Práticas Comunicacionais nos Espaços de Fronteira
Karla Maria Müller - Coordenadora


O estudo que está sendo desenvolvido pretende investigar como se dão as práticas comunicacionais das comunidades de Uruguaiana - Paso de Los Libres e de Santana do Livramento-Rivera, através da presença do elemento fronteira nos processos midiáticos locais.


Acredita-se que os resultados alcançados pelo estudo poderão contribuir com iniciativas que vislumbrem quebra de fronteiras e estimulem proposições dirigidas para além dos acordos econômicos e das questões que envolvem apenas o mercado. A presença da fronteira e de todas as relações que provoca, se percebida e compreendida como peculiar, pode tornar-se referência no sentido de levar a uma concepção correta do que venha a ser um verdadeiro processo integracionista, apontando para o enriquecimento do homem, vendo-o como ponto principal e não apenas como mera peça de uma engrenagem. A proposta visa avaliar fatos e ações - passando pela cultura, pelos meios de comunicação e pela ideologia - que derrubam barreiras e constróem passagens, como as fronteiriças.



Karla Maria Müller apresentando o projeto
Práticas comunicacionais nos espaços de fronteira



Platéia atenta durante as apresentações dos projetos e projeções de registros audiovisuais sobre eles


2. Fronteiras Culturais em Livramento (BR) e Rivera (UY): um projeto possível de se converter em programa
Maria Helena Martins - Coordenadora


O projeto FRONTEIRAS CULTURAIS (BR-UY-AR), desenvolvido pelo CELP Cyro Martins em Livramento (BR) e Rivera (UY) desde 2001, desencadeou um processo revelador de potencialidades comunitárias para apropriação efetiva do patrimônio cultural da região e para sua valorização, transformando-se em benefícios gerais para as comunidades fronteiriças.Tal processo indica a importância de se converter o projeto em Programa a ser desenvolvido em outras cidades das fronteiras entre esses três países.


O Rio Grande do Sul forjou-se a partir da necessidade de afirmação, em face do poder central luso-brasileiro e da proximidade ora ameaçadora ora atraente dos castelhanos. Estes, aliás, em condições assemelhadas. É fácil, pois, relacionar essa “adversidade” com a vivência do “drama da fronteira”, especialmente experimentado nos espaços lindeiros do Rio Grande do Sul, do Uruguai e da Argentina. Aliás, periferia e fronteira estão fadadas a compartilhar desditas, desvantagens. Mas não só isso. Devido à condição de marginalidade, as populações nessa situação tendem a usufruir uma liberdade impossível para aquelas próximas da "lei e da ordem". Dessa conjunção emergem duas características interagentes, que o senso comum impregna à cultura local: ideologia vigorosa e senso de possibilidade.


A formação de uma ideologia vigorosa de luta por valores libertários leva os fronteiriços a identificarem-se e passarem a ser vistos como contestadores, com tendências autonomistas. "La dura vida impuso a los gauchos la obligación de ser valientes", afirma Jorge Luis Borges, corroborando a tradição oral, que fixa a imagem heróica do gaúcho. O senso de possibilidade não considera a fronteira como delimitação, mas como abertura para outros horizontes. Assim, o que significaria um impedimento, ou mesmo uma ameaça, resulta em perspectiva de algo mais: desafio, conquista ou alternativa. A tal senso se ligaria a opção de permanecerem brasileiros - território e seus habitantes do que hoje conhecemos como Rio Grande do Sul -, embora fortemente disputados por portugueses e espanhóis.


Corolário de tais características, encontra-se em algo, digamos, mais pragmático. Trata-se da tendência persistente de orientar a vida na região pela busca de conveniências, de operacionalização daquilo que psicanalistas talvez chamassem de “benefícios secundários”. Há décadas o cotidiano fronteiriço se abala e se conforma a cada volteio de câmbio – bom ou mau para o lado de cá ou para o “outro lado”. Uma questão de trânsito... de gente, de negócios, de gado, também de gêneros, de subsistência diária. Compensam-se precariedades da situação, geralmente, por meio do contrabando puro e simples, da lei de oferta e procura, do trânsito fácil entre os dois lados, da alternância cambial propícia. Contingências, enfim, que modulam o cotidiano do lado de cá e do lado de lá.


Ainda não foi efetivamente conscientizada pelos habitantes da região e seus representantes a conveniência do cultivo bilateral do ser fronteiriço e a transformação dessa riqueza cultural em benefícios para a auto-estima e em desenvolvimento calcado nas demandas da sociedade, indo além do exercício imediatista de sobrevivência, tendo um enfoque humanista. Mas o projeto desenvolvido em Livramento e Rivera tem revelado que, se investimentos forem feitos com esse intuito, certamente darão retorno social e econômico, além de resgatar um patrimônio cultural inestimável.


Cabe a nós, os que constatamos essa realidade e participamos de um Fórum que considera “um outro mundo possível” tomar iniciativas e ir à luta, lembrando palavras de Cyro Martins, extremamente oportunas:


Nós, estudiosos, como agentes do futuro, temos deveres e privilégios. Estes são prerrogativas de quem chega na frente. Os deveres se referem ao destino coletivo. O destino não se enfrenta de olhos fechados, submissos à fatalidade da tragédia grega. Cabe-nos nesta encruzilhada da conjuntura mundial, enfrentar a esfinge com um sistema objetivo de pensamento e ação, para que possamos planejar o futuro previsível. A primeira medida deverá consistir na renúncia das palavras pretensiosas que conduzem ao pseudoconhecimento conceitualizado, forma neutralizadora do contato direto com a realidade. A civilização ocidental, através das grandezas, acertos, erros e misérias, nos colocou às portas de uma tomada de consciência humanística, que compreende uma conotação trágica e que deverá levar os homens mais esclarecidos a repensar o nosso entusiasmo pelos milagres da técnica, tão fabulosos e arrebatadores que obscurecem a suprema obra da natureza, a unidade mente-corpo, denominada homem”. Cyro Martins. O mundo em que vivemos. Porto Alegre, Movimento, 1983.


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Desvendar Mistérios da Comunicação Fronteiriça