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A humana arte da palavra | Imprimir |  E-mail

Cyana Leahy-Dios*


LITERATURA: ARTE da PALAVRA em SOCIEDADE

LER LITERATURA: ATO COMPLEXO, ECLÉTICO, TRANSDISCIPLINAR

LEITURA: ACESSO AMPLO E EXTENSO ÀS PRODUÇÕES CULTURAIS

LEITURA SOCIAL, POLÍTICA, ECONÔMICA e CULTURAL

LER: ATO TRANSDISCIPLINAR E ECLÉTICO DE CONSUMO

                       

                        EXISTE LEITURA NEUTRA?


LENDO ONTEM...


LER já foi: ‘habilidade’, ‘exercício espiritual’, ‘atividade sagrada’,

‘meio de instrução da elite’, ‘acesso à verdade absoluta’...      


LER já causou: ‘resfriados, dores de cabeça, enfraquecimento ocular,

gota, artrite, hemorróidas, asma, apoplexia, doença pulmonar,    

indigestão, obstipação intestinal, distúrbio nervoso, enxaqueca,

epilepsia, hipocondria e melancolia’.


LENDO HOJE...


LER significa interpretar a palavra.

LER amplia e aprofunda a inserção interativa de leitores na cultura

lingüístico-literária.

LER privilegia a construção do saber: do texto literário ao cinema, da receita

culinária ao anúncio de rua, das notícias às fofocas sociais.

LER propicia o contato com códigos alternativos, ampliando recursos lingüísticos

e interpretativos. 

LER combina processos neurofisiológicos (leitura sensorial), afetivo-cognitivos

(leitura emocional), argumentativos (leitura racional). 


LER & PENSAR são atos indissociáveis, reveladores de idéias e sentimentos

partilhados.


A CAPACITAÇÃO POLÍTICA REQUER CIDADANIA ATIVA.


LER é ‘caminho de mão dupla na transformação do texto e do leitor’

                                                                                  (Mª Helena MARTINS)


LENDO A HUMANA ARTE DA PALAVRA DE CYRO MARTINS

Essa Arte da Palavra humana, literária e psicanalítica flui dos cinco sentidos às

vastas emoções e aos pensamentos, perfeitos e imperfeitos. Afinal, Cyro MARTINS

já nos ensinou que ler é...

... ‘gostar das palavras que comunicam calor de vida, que nos estimulam a folhear o

livro que amanhece todos os dias’.


Seus títulos já nos encaminham ‘Para início de conversa’, ‘Na curva do arco-íris’,

onde quis ‘Ir para o colégio’ apresentar ‘Um senhor espanhol e a outra pessoa’.

Revelam ‘Mãos amigas do próximo’ ‘Inesperadamente, de manhã’, vendo um

‘Gaúcho a pé’ à espera do ‘Príncipe da Vila’.


AVISO AOS NAVEGANTES: ler Cyro MARTINS ‘vicia’.


Comprovada a dependência literária, teatral, musical, pictórica e cinematográfica

da leitura de Cyro MARTINS, há riscos de contágio na leitura do conto abaixo.

Preparem-se.

_______________________________________

‘Guri’

- Pstiu, caalo!

O pingo, bagual novo, se parara arpista com o rebuliço, instigando o ginete para

uma escaramuça. Espantado, fogoso, cabeça erguida, trocando orelha, olhando longe,

era um urco de grande o pangaré do Nilo.                    

- Cuidado, rapaz, que esse animal é velhaco.

- Não deixei as pernas em casa.

O guri, de ouvir, já sabia responder.

E não cansava de pular proezas, enganchado no cavalo de sarandi, com uma tira

de pano, que era a cola, quebrada em cacho de três galhos bem em cima, lá onde

canta o galo e os cuscos não alcançam.

- Volta, volta, boi!

Batendo as aspas pontudas no atropelo da disparada xucra, a novilhada estralava os

cascos duros num estrondo, como chuva de pedra, no chapadão raso como uma tábua.

Gritaria, Agachadas. Guascaços puxados. Sofrenaços. Esbarradas compridas

assinalando no chão a marca da sua violência. Tiros de laço, largados com maestria

uns, e outros guampeando as macegas no mais. Rodadas feias. Silvos de boleadeiras

pelo ar. E cavalos correndo soltos com arreios.

Um lote grande se cortou rumando o aramado. Na ponta, embora bem montado, o

Ricardo, solito, não podia sujeitá-lo.

E se aproximavam ligeiro da cerca, que estava bem de pé, estirada, e era toda de

madeirama nova.

A chapada, de resvaladia, era um sabão.

E a manhã, claríssima, tonteava de tanta luz.

Do oitão do rancho, montado no seu cavalinho de pau, o Nilo entusiasmado, contente,

batendo os pezitos no chão, que o pingo fogoso não parava quieto, não tirava os olhos

do grande cenário.

Nunca vira aquilo. E estava gostando de ver. Tinha lástima de não ser homem ainda

para andar lá também, e correr e se arriscar.

Num vá, a cerca deitou. Assobiaram fios de arame arrebentados, e voaram lascas de

pau, cravando longe no chão como estacas.

Tropeiro, cavalo e boiada uniram-se num bolo só.

E daí um pedação, apareceram com o Ricardo de arrasto num couro, sangrando.

Quebrara-se no golpe. Mas não gemia, procurando disfarçar a dor.

O guri recolheu, na esperteza campeira dos olhitos alarifes, toda a viva emoção daquele

instante supremo na vida do gaúcho.

Todos estavam calados. Ele também. Não indagava nada. Olhava no mais.

O índio pediu um cigarro. Tragou uma pitada, e morreu.

Esse dia o guri não brincou.

Dias depois encontraram o Nilo, deitado debaixo do mesmo umbu, bem espichado,

com um cigarro apertado entre os dentes, fingindo-se de morto.

Faz de conta que numa tropeada braba levara uma virada mui feia.

Perto, branqueando ao sol, a sua tropa. Ossada limpa!

A cerca de um fio único de barbante, suspenso antes na ponta de dois pauzinhos finos,

toda caída no chão.

Ao lado do aramado, morto, o bagual pangaré.

                                                   (in Você deve desistir, Osvaldo, L&PM)

_________________________________________


A Humana Arte da Palavra de Cyro MARTINS descortina novos olhares

lingüístico-gramaticais; revela a urgente e necessária inclusão do rico vocabulário

gaúcho nos dicionários lexicais nacionais.

Somos um coral polifônico, vivo, dissonante, em processo de permanente

transformação. Merecemos respeito. Nossas leituras agradecem. Nosso idioma

também.

Ler a palavra é o primeiro passo para leituras mais profundas, rumo a novos

mergulhos e vôos, dentro e fora de nós mesmos.

Leitores integrais da Humana Arte da Palavra realizam essa utopia liberadora

através da LITERATURA, a combinação indissolúvel de arte, palavra, sociedade.

E isso, parodiando o anúncio, não tem preço.


   ‘- É um escritor admirável!


Ora, bolas! – exclamo hoje, quase cinqüenta anos depois. Certamente fiquei vermelho,

porque senti uma súbita onda de calor. Cheguei a esboçar um gesto para apalpar o

rosto. Mas os cotovelos  estavam rígidos. Sentia-me anguloso, tremendamente

desajeitado. Entretanto, algo me impelia a dizer ou fazer qualquer coisa. Até quando

iria me limitar somente a ouvir?’   

                                                

            Vai para Cyro MARTINS nossa Humana Arte da Palavra.