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Estudo do Espaço Fronteiriço na obra “Uma terra só”, de Aldyr Garcia Schlee | Imprimir |  E-mail

Cibele Beirith Figueiredo Freitas*


O estudo do espaço na literatura é importante, porque essa categoria narrativa possibilita analisar, caracterizar e interpretar uma série de relações temáticas e formais que auxiliam na compreensão do universo ficcional. Através desse elemento, é possível compreender, ainda, como se desenvolvem as ações dentro da trama, bem como as relações entre as personagens e o lugar por onde transitam. Por isso, recorre-se à análise dessa categoria como meio de estudar e buscar um pouco mais de entendimento sobre a literatura produzida no Rio Grande do Sul.

Este trabalho tem por objetivo analisar e caracterizar o espaço fronteiriço na obra ficcional de Aldyr Garcia Schlee, na narrativa Uma terra só, publicada em 1984.

Aldyr Garcia Schlee nasceu em 1934, na cidade de Jaguarão, (RS). Formou-se como Bacharel pela Faculdade de Direito da cidade de Pelotas. Em Pelotas, na UFPel, atuou como professor universitário, na área do Direito Internacional Público e, durante um mandato,foi Pró-Reitor de Extensão nessa universidade. Ganhou por duas vezes o Prêmio Bienal Nestlé de Literatura Brasileira, com as obras Contos de sempre (1982) e Uma terra só (1984).

Dedica-se à atividade de escritor, abordando em seus trabalhos uma questão que sempre o intrigou: a fronteira.

O espaço corresponde ao lugar por onde as personagens transitam, onde cumprem seus deslocamentos geográficos e onde realizam a trajetória de suas ações. O espaço físico é integrado pelos lugares onde ocorrem as ações narradas: no campo, na cidade, numa ponte, numa casa.

Em uma mesma narrativa, pode-se encontrar vários tipos de espaço, algumas vezes continuamente ao longo das páginas ou misturados ao decorrer do enredo, cada um com sua funcionalidade.

Neste caso, será tratado o espaço fronteiriço.

O espaço fronteiriço corresponde à faixa de território sobre a qual passa a linha que separa um paísdo outro, no caso deste estudo, o Brasil e o Uruguai.

Igor Moreira (2003: 8) diz, ao se referir à fronteira sulina, que:

As fronteiras do estado do Rio Grande do Sul formam-se em meio a intensas disputas entre portugueses e espanhóis, às quais seguiram sucessivos conflitos entre o Brasil e seus vizinhos platinos. Ou seja, são áreas nas quais sempre predominou a preocupação com a preservação e a defesa e que por isso marcam de modo concerto a separação entre o território brasileiro e o dos vizinhos. Atualmente, com o capitalismo global e com a criação do Mercosul, as fronteiras se tornaram espaços de pretendida integração.

Os países comercializam seus produtos entre si, não havendo mais aquelas diferenças do passado. Essa reciprocidade aumenta o fluxo de produtos e de pessoas de um país ao outro.

Igor Moreira (2003: 64) acrescenta ainda que, pela formação socioespacial, o Rio Grande do Sul apresenta maiores semelhanças econômicas com os vizinhos platinos do que com o Brasil tropical.

Disso resulta que a maioria dos produtos de exportação do Rio Grande do Sul são os mesmos que os do Uruguai.

O contista jaguarense Aldyr Garcia Schlee, nascido em uma cidade que faz fronteira com o Uruguai, transforma sua escrita numa constante tentativa de ultrapassar e romper os limites entre essas fronteiras.

Segundo Maria Eunice Moreira, (1988: 18), “separados geograficamente pelo rio Uruguai, a divisão entre os territórios não é sentida pelas personagens, que o vêem como uma terra só, onde se mesclam costumes e pronúncias".

Para o escritor, o espaço fronteiriço não é nem brasileiro nem platense, é a soma das duas nacionalidades diferentes como o resultado de um produto, assumidamente matizado das cores e das formas de expressão próprias das duas pátrias. Em seus contos, estão presentes vários elementos que formam um elo de ligação entre os brasileiros e uruguaios, como a estrada-de-ferro e a ponte, ligando os povos e as culturas dos dois países.

O homem, habitante desse espaço, está presente na linha que une os dois países e pode ser representado através do almoxarife (administrador de almoxarifado) ou do estivador (aquele que trabalha em estiva).

Outro representante do homem fronteiriço pode ser o homem uruguaio, o castelhano, morador do Uruguai, que, no conto Um brilho nos olhos, está em harmonia com seu vizinho brasileiro. Em alguns trechos também se percebe a semelhança do espaço campesino uruguaio com o espaço campesino brasileiro, que pode ser acarretado pela falta de consciência da divisão das duas terras.

Com o rio aproximando os dois países, ocorre também uma combinação das duas linguagens. A linguagem é uma importante marca do espaço da fronteira, pois há uma mistura das duas línguas: a portuguesa com a espanhola. Há uma mescla dos dois idiomas. Dessa mescla, surge uma língua nova, que pode ser chamada de “portunhol”, reforçando a idéia de que não existem fronteiras entre os dois países.

Nos contos analisados, contata-se que o autor trabalha com temáticas que sugerem a união das duas culturas.

No conto Um brilho nos olhos, ocorre um disputa de uma partida de futebol em que os times são formados por jogadores brasileiros e uruguaios. Em Estação Rio Branco, a construção da via férrea serve para unir os dois países: o brasileiro e o uruguaio. Em Primeiro de Janeiro, ocorre a inauguração da ponte que forma um elo de ligação entre Brasil e Uruguai.

Pode-se perceber, através de todos esses elementos formadores do espaço fronteiriço que o contista Aldyr Garcia Schlee propõe uma diluição entre as fronteiras dos dois povos.

Ao finalizar este estudo, é possível concluir que o espaço fronteiriço em Uma terra só constitui um elemento de diluição entre as fronteiras dos dois países. Aldyr propõem a união das duas culturas.

Observa-se através disso, que o espaço constitui um elemento fundamental à narrativa, por onde movimenta-se as personagens e realizam-se as ações, estabelecendo uma afinidade entre o homem e o lugar que ele habita.

A sugestão do título da obra Uma terra só também é referida pela união das duas culturas, a espanhola e a brasileira, formando uma identidade só, uma só terra.

A proposta na epígrafe utilizada para abertura de seu livro, é encontrada a frase que comprova a perspectiva do autor:

Aqui há uma terra só, só há uma gente, seja do lado de cá, seja do lado de lá.


*Cibele B. Figueiredo Freitas
é graduanda em Letras/PUCRS.
Orientadora: Dra. Maria Eunice Moreira