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Evocando Mário Martins* | Imprimir |  E-mail

Cyro Martins


Quando a Marlene, nossa Presidente, me convocou para proferir algumas palavras nesta ocasião, não só aceitei logo a comovente tarefa, como também imediatamente me aler­tei para o dever de reler e repensar os trabalhos de Mário Martins, pois entendo que a melhor maneira de render home­nagem a quem deixou uma obra escrita é voltando mais uma vez às suas páginas, pois nelas está geralmente o que ele deixou de melhor em matéria de pensamento.

Com efeito, o pequeno livro póstumo, Epilepsias e outros estudos psicanalíticos,merece ser relido por nós psicanalistas, com a maior atenção.

O primeiro capítulo, intitulado Epilepsias, eu acompanhei desde quando estava em andaimes. Assisti a sua apresentação na Associação Psicanalítica Argentina. Com ele, Mário conquistou o título de membro associado daquela Associação. Depois eu o leria outras vezes em Revistas. Para remate do meu trabalho sobre Diadorim, personagem de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas, utilizei as ideias fundamentais do estudo de Mário referentes à ação traumática da cena primária no desencadeamento das crises de grande mal.Esse estudo também me serviu para caracterizar o distúrbio de identidade de sexo em Diadorim.

Seguem-se, em capítulos sucessivos, profundas considerações acerca de aspectos-técnicos no tratamento psicanalítico da depressão e outras abordagens bastante pessoais sobre o luto e sua elaboração.

O livro contém ainda dois capítulos, intitulados "Mania e Onipotência" e "Psicodinamismos e Fantasias Inconscientes da Menstruação e Ovulacão". As ideias do Mário. Martins sobro nossos temas merecem apreciações especiais, pois se desenvolvem em dimensões originais do pensamento psicanalítico, o que é raro.

Os dois capítulos finais, estudos inacabados qua fi­caram entre seus papéis, são igualmente densos e nos fazem lamentar que o autor não os tenha podido terminar.

Faço essas apreciações, embora breves, com o intuito de chamar a atenção sobretudo dos nossos jovens colegas para a produção científica do fundador desta Sociedade e hoje nosso patrono.

O livro de Mário Martins, coletânea de trabalhos nos quais aborda temas de sua predileção, foi organizado por David Zimmermann, que abre o volume com um excelente prefácio. Esse livro poderia e deveria ter 200 páginas e não apenas 103, não fosse a feitura gráfica acanhada. Esperemos que, numa segunda edição, indiscutivelmente necessária, esse defeito seja corrigido. A importância de seu conteúdo assim o requer. Seria lastimável se uma obra de tanto va­lor, pelo acanhamento da edição, viesse a naufragar na avalanche das publicações psicanalíticas contemporâneas.

A nota da quarta capa é da autoria de Germano Vollmer Fo, Presidente de nossa Sociedade na época do seu lançamento. Nota simples e precisa, característica do seu autor.

Ainda a propósito desse livro, quero acrescentar al­go mais. Proponho que seja objeto de um seminário no ano que a Comissão de Ensino achar mais conveniente, com uma duração mínima de três meses, para que todas as turmas de novos analistas gaúchos saiam de nosso Instituto com um conhecimento aprofundado do pensamento psicanalítico e humanistico da figura impar que homenageamos hoje. Certamente, Mário se enquadra entre as melhores cabeças da psicanálise latino-americana.

Quando Guillermo Arcila visitou Porto Alegre, na qualidade de representante da Sociedade Psicanalítica da Colômbia, no último dia do sua estada entre nós, me disse: "Agora sei porque Mário é tão importante aqui".

Do cidadão Mário Martins, do amigo, do companheiro de estudos, do profissional, do professor, já me ocupei noutras oportunidades. Não me repetirei, portanto, neste nosso alegre aqui e agora. Sim, esta reunião é uma festa, pois não nos reunimos para lamuriar e sim para recuperar uma memória. 

  

O Mário pioneiro jamais se deslumbrou com a utopia dos visionários. Espirito realista, o seu desempenho como líder do grupo à frente do qual implantou a psicanálise no nosso meio foi um espelho do seu caráter corajoso e sem vaidades, sem invejas, sem pedantismos. Mário, líder identificado com a sua causa, desempenhou sua missão serenamente, mesmo nos momentos difíceis, que não faltaram. Foi sempre o bom-senso em pessoa, graças ao seu equilíbrio tempe­ramental.                    

Certa  vez - faz isso muitos anos - estávamos ainda no Edifício Cândido Godoy, conversávamos, Mário, Laura Achard, visitante, e eu. Foi num entardecer, pós-tarefa. A conversa girava em torno do futuro das nossas Sociedades, a de Porto Alegre e a de Montevidéu. Como sói acontecer nessas conversas vadias, fomos aos poucos ladeando os problemas institucionais e nos chegando para as nossas pessoas. Por certo, daí a alguns anos, outros nos substituiriam. E os nossos retratos  disse eu - iriam um dia encher o vazio das paredes do auditório. "Ele está muito otimista!" - atalhou o Mário, dirigindo-se a Laura.

Não, eu estava dentro,do meu realismo esperançoso de sempre.  Provam-no o retrato e a placa de bronze que inauguramos hoje, festivamente.

 P. Alegre, 24/11/1990

* Discurso proferido na inauguração de placa em homenagem a Mário Martins na SPPA