Apologia da não-leitura? dos não-leitores? Ao contrário, o que se quer com esse livrinho é dar um alce a quem lê e nem sabe disso e dar um toque em quem tem tudo para ler e mediar leituras, mas não está nem aí ...

Também faço perguntas para as quais não tenho respostas: por que sistemas e métodos de ensino-aprendizagem deixam tanto a desejar mesmo com crianças e jovens sem carências maiores? Por que a importância de ler é tão alardeada, antes mesmo de ser a leitura melhor compreendida?

Este Enigmas da Leitura leva para os leitores essas questões complicadas para responder, mas certamente vai fazer com que muitos se surpreendam com suas capacidades leitoras, não raro subestimadas.

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“Eu canto é pra saber o que é que eu penso”.

Ouvi esse verso ao passar pela agitada Barão de Itapetininga, no Centro de São Paulo. Era um cantador, no meio de pequeno grupo. Toquei em frente, apressada, mas as palavras ficaram ressoando. A situação e o estranhamento diante do canto subvertiam preceitos. Estamos moldados ao já sabido ...

Entre a fala e a escrita há um complexo de fatores que ainda escapam ao entendimento até mesmo de cientistas da linguagem. Para o leigo, isso parece fora de cogitação. Mas, como estamos todos nesse circuito comunicacional, é só prestar a atenção e fica evidente que além da letra há muito o que ler. Analfabetos e iletrados, intuitivamente, vivenciam isso. O simples ato de ligar a experiências nossas o que se vê, ouve, toca, cheira, degusta desencadeia processos de leitura. Da mesma forma que se faz uma pré-leitura da própria fala, ainda que instantânea, sob pena de não dizer coisa com coisa ou cometer os ditos atos falhos.

Há letrados, entretanto, que subestimam essas situações de vida que prescindem da escrita. Convém, então, reavaliar nossas capacidades leitoras. Em especial, com relação à diversidade cultural brasileira, que potencializa o entrecruzamento de linguagens, permeando o cotidiano da população com múltiplos saberes e fazeres absolutamente legíveis. Assim como face aos apelos da imensidade de expressões e recursos que a tecnologia dispõe para lermos, além dos meios impressos.

Nesse minibuk, retomo vivências minhas – uma trajetória e os achados no caminho me dão o que contar sobre esse assunto.

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* MARTINS, Maria Helena. Enigmas da Leitura; lendo com analfabetos e iletrados. Porto Alegre, Território das Artes. Col. minibuks, 2010.

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