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A Relação Médico-Paciente na Atualidade | Imprimir |  E-mail

Fernando Lejderman *


A nova edição do livro Perspectivas da relação médico-paciente, organizada pelo psiquiatra, psicanalista e escritor Cyro Martins e publicada pela então editora Artes Médicas, em 1979 e reeditado em 1981, reflete um renovado interesse sobre a dimensão humana da medicina.

É por intermédio do complexo relacionamento entre uma pessoa – paciente, portadora de queixas, sofrimentos e doenças – com um médico, credenciado pelos seus conhecimentos e habilidades, que se desenvolve a estrutura fundamental da prática médica. Abordar esse tema, com a visão atual dos autores que o escreveram há 30 anos, é, sobretudo, oportuno, devido às mudanças de paradigma que atingiram a medicina nesse período.

As conquistas científicas e tecnológicas ocorridas desde a segunda metade do século XX até os dias atuais proporcionaram avanços inimagináveis na prática da medicina. A etiologia e a fisiopatologia das doenças têm sido  esclarecidas em diferentes níveis. A biologia e a genética molecular estão sendo utilizadas para mapear e identificar a base genética das doenças. A qualidade dos exames laboratoriais e exames por imagem possibilitam diagnósticos cada vez mais precoces e mais precisos.  Os transplantes de órgãos se tornaram uma realidade impressionante  e, procedimentos cirúrgicos menos invasivos apresentam resultados notáveis. As medicações se tornaram mais sofisticadas e eficientes, modificando a evolução e o perfil epidemiológico de doenças até pouco tempo consideradas incuráveis. Em todas as especialidades médicas, os resultados são surpreendentes em comparação a épocas passadas. A medicina se tornou uma profissão especializada, atingiu um nível de excelência extraordinário e nunca, em sua história, esteve tão capacitada para realizar estratégias de prevenção, eliminar o sofrimento e salvar vidas; como consequência, as pessoas estão vivendo progressivamente mais e com melhor qualidade de vida. Sob esse ponto de vista, portanto, a medicina jamais foi tão humana.

 

          Por outro lado, a globalização, os níveis intensos de competição e as ultramodernas tecnologias de informação do mundo atual estão tornando a velocidade um novo paradigma de comportamento adotado por quem deseja ter sucesso, estar integrado e concorrer no mercado. A pressa se tornou uma marca registrada desses novos tempos e, inevitavelmente, se fez presente no cotidiano da prática médica. Uma das principais críticas contemporâneas à comunidade médica é que os médicos estariam mais interessados nas doenças do que nos doentes. O tempo, antes dedicado ao paciente, foi sendo gradativamente substituído ao tempo dedicado às técnicas de apoio ao diagnóstico, como os exames laboratoriais, radiografias, ecografias, cintilografias tomografias e ressonâncias magnéticas, que, por sua vez, aumentam a certeza dos diagnósticos e a segurança dos médicos.  


Outras críticas à medicina atual, com repercussões significativas na relação médico-paciente, estão diretamente  relacionadas  aos  custos financeiros dos cuidados médicos  e ao nível de organização dos serviços de saúde, principalmente os serviços públicos que, em determinadas situações, são realmente precários. A expansão dos planos de saúde e da medicina institucional é uma decorrência inevitável do elevado custo financeiro de uma medicina progressivamente dependente dos aspectos  tecnológicos. O vínculo emocional do paciente, então, não é mais somente com o seu médico, mas  sim, com os plano de saúde e com as instituições.


As demandas por atendimento médico no sistema público de saúde são permanentemente  maiores que os recursos disponíveis . O cenário da medicina atual é um cenário de diminuição de vagas nos hospitais e com as  emergências médicas superlotadas , tanto as públicas  quanto as  privadas. É um problema importante para a população e um desafio  para os  profissionais responsáveis por políticas públicas mais adequadas  e para os governantes diretamente envolvidos  na  gestão na saúde. Os médicos, por sua vez, nesta difícil realidade, enfrentam frequentemente más condições de trabalho e, baixa remuneração. Não há como negar as repercussões negativas na relação médico-paciente em ambientes com sobrecargas dessa natureza .


O humanismo médico de Cyro Martins previu, há mais de 30 anos, algumas dessas questões em torno da relação médico- paciente. Publicar novamente um livro sobre este tema é uma oportunidade de reflexão que a editora Artmed proporciona a todos os leitores sobre a importância do vínculo emocional entre médicos e pacientes. É preciso ouvir algumas críticas como uma advertência de que a ênfase excessiva nos aspectos científicos e tecnológicos da medicina e a sua crescente necessidade de financiamento  não resulte numa erosão da relação médico-paciente. Valorizar o aspecto emocional presente na relação médico-paciente é uma tarefa essencial da medicina e também um fator de proteção contra ansiedades e incertezas naturais despertadas pela doença e pelo sofrimento. Esta face humana da medicina, pode ser considerada  um bom guia para os futuros planejamentos na área da saúde.

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Fernando Lejderman é Psiquiatra, foi Presidente da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul e é da Coordenação da área de Humanismo Médico do CELPCYRO.