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O Reinado de Momo  E-mail
Coluna CELPCYRO - Colunistas

                                                                                     

                                                                                               João Gomes Mariante*

 

Os festejos sob a batuta profana, acionada com elevado fervor cívico-carnavalesco, destacam e invertem a condição do pobre diabo; do míserofaminto; do singelo escravo, transfigurado agora em senhor fidalgo, em Rei e Imperador. O carnaval destaca a exaltação do ridículo, a apologia do absurdo e a alegria maníaca que se converte em arte e se sublima em alma. Ao malograr a repressão, há o predomínio do comportamento mais excêntrico e a evidência da idealização e da onipotência, paralela à negação da miséria.

 

A alacridade contagiante revela a carapuça encobridora de uma profunda solidão, que se traduz numa alegria burlesca.

 

O carnavalesco integra-se tão profundamente nas marchas – ranchos, com seus ritmos langorosos, dolentes, para surpreender a plateia, com um salto brusco, deslumbrando a multidão ao entrar na ritmopeia em obediência ao ribombar de rojões, ao ruflar de tambores e ao som estridente das cornetas.

 

O carnaval institui um clima de ampla permissibilidade consentida e oficializada num O reinado de Momo O carnaval apresenta-se como o apogeu das celebrações de rituais pagãos e reflete características orgiásticas envoltas na penumbra dos séculos. Em nosso meio, transfiguram- se em ópio da gentilidade, em efeméride nacional e em um clímax de efusões tropicais.

 

A explosão da folia rompe a depressão de trezentos e sessenta e muito dias de jejum recreativo, e de expectativa sobre o próximo destempero.

 

O carnaval caracteriza um período de libertinagem, de explosão de instintos reprimidos, episódios em que a censura canônica venda os olhos à iniquidade. O pecado, se transforma em pecadilho. êxtase policrômico, que abre alas à culminância de ações maníacas ao acesso à libertinagem, sem tréguas nem limites, e aos desregramentos da conduta humana.

 

A extinta escravatura ressurge ampla e fidedigna como consolo e como rememoração, destinada aos descendentes para sentirem como ela foi, ou mais precisamente, como almejaram que ela fosse. Tais rememorações de preferências suprimem a apresentação do escravo no cepo e na senzala. Dão preferência a êmulos de reis e rainhas que o saudosismo faz reviver no simulacro das roupagens e nas estátuas, a imagem magnificente e configurativa de exemplares João Gomes Mariante, psicanalista “O carnaval é a lidima ribalta, onde o expectador deixa a plateia para ser protagonista. É o espaço em que revive a aspiração de ser o que não é, e o

que não se permite ser no cotidiano da existência.” da realeza do Congo e da Nigéria. Nos três dias, o carnavalesco abdica da condição de vassalo para assumir a nobiliárquica categoria da realeza avoenga. No carnaval, as excentricidades e os disfarces propiciam a submersão de recalques, estagnados sob o comando da repressão para aflorarà superfície.

 

O carnaval é a lidima ribalta, onde o expectador deixa a plateia para ser protagonista. É o espaço em que revive a aspiração de ser o que não é, e o que não se permite ser no cotidiano da existência. O carnaval, em suma, é a extravasão pantomímica do amargor das "três raças tristes".

 

* João Gomes Mariante

é Psicanalista, Escritor e Editor do Jonal MenteCorpo, de onte se extraiu este texto (ed. fev 2011)