X Jornada CELPCYRO

img banner

Informe CELPCYRO

Cadastre-se e receba nosso INFORME
Nome
E-mail*
Área de Atuação

Redes Sociais

  • Twitter
  • Windows Live
  • Facebook
  • MySpace
  • deli.cio.us
  • Digg
  • Yahoo! Bookmarks



POEMAS | Imprimir |  E-mail

Rogério Gastal Xavier apresetado por Léa Masina


 

FLOR DA FORTUNA

 

Quem não vê

logo atrás desses olhos

profundos, no olhar marcado,

enormes campos abertos

a refletir transparências

verdes-água?

 

Quem não sente

a mansidão dos matos

vicinais, a sua contenção

sóbria, sábia,

neles?


Quem não aspira

à solidez-pétrea, caráter

desse corpo franzino, quase

etéreo, machucado

pelo mal do homem

e suas poções

de veneno?



===============


BARQUEIROS

  

Um barco é ponto branco no mar.

O homem, ponto branco à distância.

Já o ponto branco dos pássaros é diferente:

Move-se em três dimensões.


A imobilidade de um barco ou do homem

São flagrantes de sua pequenez

Frente aos pássaros.

 

Barcos e homens são objetos ou seres

Sintéticos, sobrevivem pela capacidade

De interação entre portos e pessoas.

 

O pássaro altaneiro, não.

Deve-se a si, aos seus.

E nada mais.


====================


HOMEM - OBJETO

 

Assim como a sombra é oculta à elevação do sol,

O homem-objeto está preso em si mesmo.


A esfinge suspira na boca conectada a um tubo.

Fino traço ausente, dizque pintado por Clara Pechanski.


Adormece a vida, a majestade do olhar perdida.


Dizque Amedeo Modigliani pintaria dois orifícios,

A expressão vazada pela luz intensa.


Do corpo submisso fluem sonhos-labirintos.


Carretéis enfiados em linha, dizque seriam

Na pintura de Iberê Camargo. E o dito:


“Dentro do traço mesmo, o vácuo ora está fora ora dentro”.



======================


SENDAI, SENDAI


 De um maremoto

o clamor brota da terra,

do chão, do mar. Perdão.

 

As placas deslizam

e abatem o teu corpo

de gesso. Frio.

 

Expõe as nervuras,

jorra sangue das feridas.

Ameaça à alma.


Os campos mudos

sem o viço do prazer.

Sem tuas sementes.

 

A água, subida

do mar em ciclone,

a terra arrasa.

 

Baque de casas,

florestas, fendas se abrem

e engolem gente.

 

No desvão, sem gritos,

vão-se multidões, vidas.

Um sopro que pára.

 

A mulher idosa,

levada pelas três filhas

no xale branco.


O bebê rosa

sob risco de radiação.

A multidão sóbria.


Sem saques, sem medos,

pessoas buscam água,

pão. Ficam em filas.

 

Jovens sem sorrisos

auxiliam a carregar

vivos e mortos.

 

Sendai, Sendai,

a usina de Fukushima

explode, queima.


Gueixas delicadas,

narizes perfeitos, somem

trás das máscaras.

 

Tóquio está longe,

mas treme aos abalos

e de pânico.

 

Lembranças constantes,

Hiroshima e Nagasaki,

no bojo das nuvens.

 

Fumaças, cheiros.

E o aroma dos pessegueiros

onde está?


Sendai, Sendai,

tuas bonecas de louça

ainda conversam?

 

E as flores de março

nas brancas cerejeiras,

de ti irão lembrar?


Água, luz e gás

mínguam. Sobram detritos

a purificar.


Montes de lama

e lixo, à espera

de um Samurai.

 

 



Rogério Gastal Xavier é natural de Pelotas, Rio Grande do Sul, cidade de onde provém o imaginário presente em grande parte dos seus poemas. Médico pneumologista de reconhecidos méritos, exerce a profissão em Porto Alegre, onde se formou e atuou como docente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Há alguns anos, dedica-se à literatura, escrevendo sobretudo poemas. Publicou, em 2009, seu primeiro livro, “Maria dos Mares Lunares” e, por sua atuação nos meio culturais e literários, foi convidado para integrar a Academia Sul-Brasileira de Letras .


Lidando com a linguagem em sua função poética, Rogério Xavier não hesita em experimentar novos ritmos em seus poemas, sem abrir mão dos paradigmas colhidos à tradição. O poeta extrai de cada instante novas temáticas e formas, articulando a palavra poética com seu peso, cor, cheiro e competência para criar novos e múltiplos significados. Assim, transita do universo mítico de Pelotas para o mundo, ora deixando-se levar por linhas melódicas extensas, ora optando pela forma enxuta dos hai-kai.


Léa Masina

Professora de Literatura

Crítica Literária

Doutora em Literatura Comparada

oltar | home


POEMAS

Rogério Gastal Xavier apresetado por Léa Masina


FLOR DA FORTUNA

 

Quem não vê

logo atrás desses olhos

profundos, no olhar marcado,

enormes campos abertos

a refletir transparências

verdes-água?

 

Quem não sente

a mansidão dos matos

vicinais, a sua contenção

sóbria, sábia,

neles?

 

Quem não aspira

à solidez-pétrea, caráter

desse corpo franzino, quase

etéreo, machucado

pelo mal do homem

e suas poções

de veneno?

 

 

===============

BARQUEIROS

 

Um barco é ponto branco no mar.

O homem, ponto branco à distância.

Já o ponto branco dos pássaros é diferente:

Move-se em três dimensões.

 

A imobilidade de um barco ou do homem

São flagrantes de sua pequenez

Frente aos pássaros.

 

Barcos e homens são objetos ou seres

Sintéticos, sobrevivem pela capacidade

De interação entre portos e pessoas.

 

O pássaro altaneiro, não.

Deve-se a si, aos seus.

E nada mais.

====================

HOMEM - OBJETO

 

Assim como a sombra é oculta à elevação do sol,

O homem-objeto está preso em si mesmo. 

 

A esfinge suspira na boca conectada a um tubo.

Fino traço ausente, dizque pintado por Clara Pechanski.

 

Adormece a vida, a majestade do olhar perdida.

 

Dizque Amedeo Modigliani pintaria dois orifícios,

A expressão vazada pela luz intensa.

 

Do corpo submisso fluem sonhos-labirintos.

 

Carretéis enfiados em linha, dizque seriam

Na pintura de Iberê Camargo. E o dito:

 

“Dentro do traço mesmo, o vácuo ora está fora ora dentro”.

 

 

======================

SENDAI, SENDAI

 

De um maremoto

o clamor brota da terra,

do chão, do mar. Perdão.

 

As placas deslizam

e abatem o teu corpo

de gesso. Frio.

 

Expõe as nervuras,

jorra sangue das feridas.

Ameaça à alma.

 

Os campos mudos

sem o viço do prazer.

Sem tuas sementes.

 

A água, subida

do mar em ciclone,

a terra arrasa.

 

Baque de casas,

florestas, fendas se abrem

e engolem gente.

 

No desvão, sem gritos,

vão-se multidões, vidas.

Um sopro que pára.

 

A mulher idosa,

levada pelas três filhas

no xale branco.

 

O bebê rosa

sob risco de radiação.

A multidão sóbria.

 

Sem saques, sem medos,

pessoas buscam água,

pão. Ficam em filas.

 

Jovens sem sorrisos

auxiliam a carregar

vivos e mortos.

 

 

Sendai, Sendai,

a usina de Fukushima

explode, queima.

 

Gueixas delicadas,

narizes perfeitos, somem

trás das máscaras.

 

Tóquio está longe,

mas treme aos abalos

e de pânico.

 

Lembranças constantes,

Hiroshima e Nagasaki,

no bojo das nuvens.

 

Fumaças, cheiros.

E o aroma dos pessegueiros

onde está?

 

 

Sendai, Sendai,

tuas bonecas de louça

ainda conversam?

 

E as flores de março

nas brancas cerejeiras,

de ti irão lembrar?

 

Água, luz e gás

mínguam. Sobram detritos

a purificar.

 

Montes de lama

e lixo, à espera

de um Samurai.

 

 


 

           Rogério Gastal Xavier é natural de Pelotas, Rio Grande do Sul, cidade de onde provém o imaginário presente em grande parte dos seus poemas. Médico pneumologista de reconhecidos méritos, exerce a profissão em Porto Alegre, onde se formou e atuou como docente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Há alguns anos, dedica-se à literatura, escrevendo sobretudo poemas. Publicou, em 2009, seu primeiro livro,  “Maria dos Mares Lunares” e, por sua atuação nos meio culturais e literários, foi convidado para integrar a Academia Sul-Brasileira de Letras .

              Lidando com a linguagem em sua função poética, Rogério Xavier não hesita em experimentar novos ritmos em seus poemas, sem abrir mão dos paradigmas colhidos à tradição. O poeta extrai de cada instante novas temáticas e formas, articulando a palavra poética com seu peso, cor, cheiro e competência para criar novos e múltiplos significados. Assim, transita do universo mítico de Pelotas para o mundo, ora deixando-se levar por linhas melódicas extensas, ora optando pela forma enxuta dos hai-kai.

 

 

                          Léa Masina

                          Professora de Literatura

                          Crítica Literária

                          Doutora em Literatura Comparada

 

=================================