X Jornada CELPCYRO

img banner

Informe CELPCYRO

Cadastre-se e receba nosso INFORME
Nome
E-mail*
Área de Atuação

Redes Sociais

  • Twitter
  • Windows Live
  • Facebook
  • MySpace
  • deli.cio.us
  • Digg
  • Yahoo! Bookmarks



Amorosa Língua Portuguesa  E-mail
Fronteiras Culturais - Artigos

                                                     Carlos Alberto Potoko*

              

O escritor e poeta moçambicano Mia Couto disse que a língua portuguesa é hoje, talvez, uma das línguas europeias com maior vivacidade, com maior dinamismo. “Não por causa de nenhuma essência especial do português, mas por causa de uma razão histórica do que aconteceu no Brasil em que, digamos, que Portugal deu origem a um filho maior que o próprio país, né? ” Desde que os portugueses aportaram por aqui, a língua passou a ser gerida por outros mecanismos de cultura. Depois aconteceram os países africanos que introduziram na língua portuguesa alguns fatores de mudança, coloração que tornam o português hoje uma língua que aceita muito, que é capaz de introduzir tonalidades e variações que a enriquecem muito, não só do ponto de vista linguístico, mas no quanto ela pode traduzir culturas. Foi notado um processo histórico que está para além da língua, como estas culturas se mestiçaram e, a certa altura, o português ficou sem dono, quer dizer, ficou sem dono, felizmente. E namorou e namorou no chão do Brasil e também namorou aqui na poeira dos outros países lusófobos, quer dizer, sujou-se, no sentido que o Manuel de Barros dá: sujou-se no sentido de que é capaz de casar com o chão.

 

               No fundo, não está marcada a fronteira das línguas do Brasil com países sul-americanos, pois estas colocam em evidência que o português, no Brasil, enamorou-se de vários grupos sociais, sujou-se, "no sentido de que é capaz de se casar com o chão" e com os diferentes grupos humanos que o português cativa como língua materna, como a língua que se apresenta para outros grupos linguísticos. Essas fronteiras não são espaciais nem políticas. São da ordem da identificação subjetiva, em que cada sujeito, na deriva da alienação que o desejo permite, faz-se pessoa em português, independente do que as instituições lhe impõem, cai no fascínio da sonoridade e da atração sintática da língua portuguesa, quer dizer, de sua Lei. Rende-se a ela. Os grupos humanos, diante de tal fascínio e captura, fazem do português algo maior do que os colonizadores pretendiam. Como argamassa e barro, a língua é esculpida por um desejo coletivo maior: o de cada comunidade fazer-se outra perante o Outro e de não ceder à Coroa ou ao Império. Ser outra. E assim se fez o português, outra língua também com os uruguaios e os demais fronteiriços por todas as fronteiras. Impregnado de vida... copulando com ela, o Português fez-se múltiplo: sujou-se. Português do Uruguai... Português surdo... outros portugueses fizeram-se cativos dessa gente toda que os recebeu em todas as fronteiras da América do Sul. Submeteram-nos a uma ordem necessária: à ordem elástica, enigmática e amorosa da nossa língua: a amorosa língua portuguesa.

 

LETRAS DA PÁTRIA

Meu idioma...

Ao esvoaçar-se dos lábios

Mansos ou cruéis

Amargos ou doces

Tanto faz! ...

É a maior formosura

No hino ou na bandeira

É a minha amorosa...

Língua portuguesa!

-------

* Carlos Alberto Potoko é jornalista e poeta, colaborador do CELPCYRO.