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Aprendendo a Envelhecer | Imprimir |  E-mail
Coluna CELPCYRO - Colunistas

Marcello Blaya

 

Os seres vivos nascem, vivem e morrem. Humanos têm a vantagem ou desvantagem de saberem que essa será sua trajetória. Os animais desconhecem que a morte é o fim inevitável. Erich Fried, poeta judeu alemão, resume isso nesta quadrinha: "Um cachorro que morre // E sabe que morre // Como um cachorro // Já é um humano."

Em geral se pensava que o envelhecer começava aos 60, idade das aposentadorias. Se fizermos um levantamento dos sexagenários veremos que chegam a essa idade em condições bem diferentes, os que lá chegam. A galinha choca seus ovos durante 21 dias e olhados dia a dia parecem iguais, mas ao final, alguns produzirão pintinhos e outros, podridão.

O mesmo acontece com os humanos. Essa é a primeira lição: ser velho, ovos com pintinhos, é a senescência; ser decrépito, ovos podres, é a senilidade. Colhemos o que plantamos.

Há maneiras de não envelhecer como Elis Regina (1945-1982), Airton Senna (1960-1994) e agora Whitney Houston (1963-2012). Vejam nos necrológios como são raros os falecimentos depois dos 90 anos. O corpo humano é o herdeiro de milênios durante os quais, como ensinou Charles Darwin, foram ocorrendo experiências que nos deixaram essa preciosidade. Nessa escalada sobrevivem apenas os mais aptos e essa herança é a nossa maior riqueza. Sempre que a morte ocorre antes dos 120, duas possibilidades podem ser consideradas: homicídio ou suicídio. O nosso tempo de vida são os 120 anos e a francesa Jeanne Louise Calment, (1875-1997) que viveu 122 anos é uma confirmação. No Brasil tivemos Maria Gomes Valentim, (1896-2011), uma mineira de Carangolas reconhecida pelo Guiness como uma das mulheres mais velhas do mundo, 115 anos.

A mídia mostra diariamente os homicídios e essas ocorrências ensinam como evitá-las ou buscá-las. Além das armas de fogo e das drogas, são assassinos: obesidade, sedentarismo, moto, automóvel, ônibus, avião.

O suicídio é mais fácil de compreender e mais difícil de evitar. O que herdamos deveria ser utilizado de acordo com a natureza. Nossos antepassados foram forrageiros ou caçadores. Os primeiros acordavam cedo e saiam em busca de alimentos vegetais – folhas, frutos, tubérculos – o que certamente os obrigava aos exercícios que mantinham sua saúde. Os caçadores faziam mais exercícios. Nos últimos séculos o progresso deu ao homem artes, ciências e técnicas. Vou ao supermercado e trago para casa alimentos para o mês, sem exercício e com os "benefícios" da transformação dos produtos naturais, nos industrializados.

Uma reflexão se impõe: a lei determina que as carteiras de cigarros venham com informações e imagens dos danos causados pelo tabaco. Mas o verdadeiro fumante, mesmo sabendo tudo isso, não deixa de fumar. O fumante é um suicida a prestação: começa a fumar aos 15 anos e o câncer vai aparecer entre os 40-50.

Saber é fácil, usar o que se sabe é difícil. A senhora Claudionor Viana Teles Velloso, conhecida como Dona Canô, mãe de Maria Bethânia e Caetano Veloso, está com 104 anos e bastante saudável, irá mais longe. O arquiteto Oscar Niemeyer, também com 104 anos, acaba de receber o encargo de projetar o Centro Cívico Cultural do Rio de Janeiro e terminou este mês seu projeto do Sambódromo. Venho a mais de um ano buscando um médico centenário para a capa da revista SENHOR E SEM HORA e, pasmem, não encontro. Não tenho dúvida de que os médicos têm conhecimentos que os capacitam a cuidar de seus clientes mas é óbvio que não usam essa ciência em proveito próprio. Nos programas radiofônicos escutamos "Não se faz saúde sem médicos" mas deveríamos lembrar que é preciso fazer médicos com saúde. Saber é diferente de fazer...

Minha turma, Medicina da UFRGS 1954, tinha 8 mulheres e 86 homens. Morreram duas, vivem 6. Morreram 44 homens, vivem 40. A recomendação de precisarmos fazer médicos com saúde é evidente ...

A gestação ocorre em 40 semanas. Nesse período uma célula, o ovo, se transforma no feto a termo e no bebê recém-nascido. A relação entre a mãe e ovo-embrião-feto se faz pelo cordão umbilical. O par se comunica através de substratos bioquímicos preparados por ambos e "convivem" graças a eles. A mãe respira, se alimenta, faz a digestão, urina e defeca pelo feto e tudo é feito através do sangue que atravessa a placenta e leva e traz as "informações" bioquímicas. Geralmente ignoramos que esse tipo de "comunicação" persiste por toda a vida. O vinculo das partes do corpo com o eu, o ego da Psicanálise, faz-se pelo sistema nervoso e pelos líquidos – sangue e plasma. Estes alcançam cada uma das milhões de células que compõem o corpo. À parte que obedece a vontade da pessoa, se contrapõe o sistema nervoso autônomo que opera, com as glândulas endócrinas, para manter o equilíbrio, a homeostase.

O problema maior para bem envelhecer é o conflito que existe entre a vontade consciente e o equilíbrio do corpo pois todas essas funções eficientes e maravilhosas que tem o organismo para viver e envelhecer bem podem ser abafadas ou destruídas pelos usos e costumes que o homem julga "normais".

O sedentarismo e o fast food são exemplos dessa "normalidade". O inventor do fast food e dos refrigerantes, Estados Unidos, tem a metade de sua população com o problema da obesidade e mais alta incidência de mortes por problemas circulatórios: enfartes e derrames cerebrais.

O conflito entre a vontade do eu e a homeostase pode ser resumida em três pontos: 01: hábitos alimentares; 02: sedentarismo e 03: vínculos de amor/ódio consigo mesmo e com o entorno. A recomendação dos médicos da China alude a essa trindade: Comer a metade; caminhar o dobro; e gargalhar o triplo.

Há mamíferos carnívoros e vegetarianos; apenas o homem e o porco usam alimentação mista. O progresso usa técnicas que degradam os produtos naturais. Comer uma salada de tomate com óleo de oliva é um alimento diferente dos produtos industrializados que a propaganda mentirosa sugere serem melhores. Para fazer esses produtos usam-se substâncias que empobrecem o alimento e prejudicam a saúde. Portanto comer a metade mas comer sempre produtos naturais.

O sedentarismo é responsável por mais danos do que fumar três carteiras de cigarro por dia. Faço compras num supermercado onde o carro fica estacionado um andar acima da loja. Olho sempre com espanto pessoas, jovens e velhos, que usam o elevador para descer quatro metros. Mesmo que não façamos a indispensável caminhada diária de meia hora, poderíamos ter exercício muscular suficiente se usássemos menos elevadores e carros para os pequenos deslocamentos verticais e horizontais. Recomenda-se caminhar o dobro.

A convivência é inevitável para os humanos mas em geral somos "educados" para aceitar o amor e rechaçar o ódio. Se lembrarem o bebê recém-nascido compreende-se que o ódio chega antes e só uma mãe capaz ajuda a criança a equilibrar ódio com amor. Apesar do "ama teu próximo como a ti mesmo", a experiência mostra que isso é a exceção. Sempre que uma pessoa adicta aos alimentos, ao tabaco ou às drogas, me diz que me ama e me respeita, não acredito. Pois se posso ver que não ama nem respeita a si mesma, como acreditar nessas palavras, fáceis porém mentirosas. E sabendo isso ainda posso gargalhar quando os próximos se apresentam como amigas/os. As/os verdadeiras/os amigas/os existem, indispensáveis pois familiares mais velhos se foram e os mais novos tem suas vidas onde nem sempre tenho lugar. As/os amigos, humanos ou animais, sempre são indispensáveis.

Agora me faço uma pergunta: vale a pena dizer tudo isso? Espero ajudar apenas alguns ouvintes pois somos tão "fieis" ao que acreditamos. E mudar, mesmo para melhor, não é a regra e sim a exceção. Sócrates, há mais de 25 séculos, explicou a recusa à mudança com a sua caverna. Segundo ele vivemos numa caverna onde nos reconhecemos nas sombras que se projetam nas pareces. Um dia alguém saiu ao sol e descobriu o engano. Feliz, retornou e tentou explicar aos demais o engano. Foi atacado e expulso por ser um demente pregando ideia enganosa. Isso ocorreu com Nicolau Copérnico, ao dizer que a terra não era o centro e sim o sol e com Charles Darwin, cujo evolucionismo é até hoje proibido de ser ensinado em algumas escolas norte-americanas.