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Outras Fronteiras - De uma visão poética à ameaça ao nosso bioma pampa
Fronteiras Culturais

Carlos Alberto Potoko  *


Walden ou A Vida nos Bosques é a auto-biografia do afamado escritor naturalista  Henry David Thoreau. Publicada em 1854, é um manifesto poético contra a civilização industrial. A obra contém tanto uma declaração de independência pessoal, como uma experiência social e uma viagem de descoberta espiritual, como também um manual para a auto-suficiência, para o que seria hoje visto como sustentabilidade. Walden tornou-se um dos livros mais conhecidos do autor e foi utilizado como referência, tanto para a Ecologia, como para o movimento beat, hippie e, claro, para mim. O autor transpôs para essa obra sua experiência, sob a tutela da natureza. Leitura fascinante para a construção dos alicerces da mente humana, é inspiradora dos ambientalistas do Greenpeace.

Feita essa introdução, volto-me para um paralelo que vejo entre o gaucho do pampa e o comportamento de Henry Thoreau com relação à natureza. O gaúcho veio para estas coxilhas viver por livre vontade, para sugar todo o tutano da vida… Talvez para aniquilar tudo o que não era vida ... Da imensidão do Pampa colheu o jeito de ser do gaúcho e a vocação para criar rebanhos, graças a um pasto natural, cheio de ervas, arbustos e 450 tipos diferentes de gramas. Um bioma que se estende por 750 mil quilômetros quadrados, ocupando todo o Uruguai, parte da Argentina e mais da metade do Rio Grande do Sul. Uma terra disputada durante séculos. Antes de se tornar território brasileiro era uma fronteira flutuante muito questionada, sendo da Espanha, sendo de Portugal. Até que nossos gaúchos optaram por ser brasileiros e se constituiu definitivamente o Rio Grande do Sul.

O Bioma Pampa, conjunto de seres vivos de uma região - a ligação entre a fauna, a flora e o ambiente físico, se caracteriza por planícies de gramínea no Sul do Brasil com montes e campos cobertos de verde. Do alto, tudo se mostra ao olhar do gavião caboclo: campos de marias-moles, banhados apinhados de flores, marrecos, rochas que formam esculturas naturais,  gaúchos que trabalham no manejo do gado emoldurando uma belíssima planície verde com mais de mil espécies de plantas rasteiras.

Na variedade da paisagem, há colinas, ondulações que no Rio Grande do Sul recebem o nome de coxilhas,  cerros chatos, vales e um horizonte que se perde na distância até se encontrar com o céu. As árvores nativas recomendam o caminho das águas, elas formam galerias ao longo dos rios que acasalam com o Pampa para abrigar mais de 400 espécies de animais, como o veado campeiro, o graxaim  e incontáveis pássaros. As emas, maiores aves das Américas, já com risco de extinção, aconselham cuidado, devido aos bichos que já desapareceram.  Pesquisadores não registram a ocorrência de uma espécie bem característica desta região, que é o lobo-guará há muitos anos.

Hoje, o nosso Pampa está desprotegido. Ele foi mapeado por uma equipe da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e os dados são alarmantes: dos 40% da área que ainda restam da vegetação original, menos de 1% está em reservas. Espécies são atacadas por plantas invasoras, como o capim anoni - que não deixam as pastagens nativas se desenvolver e são menos nutritivas para o gado. A agricultura também já tomou grande parte do bioma. Há 600 mil hectares ocupados por pinhos e eucaliptos, usados pela indústria de celulose. "Todas as espécies, tanto vegetais quanto animais nativos e silvestres que viveriam ali vão perder aquele espaço. Espécies que são adaptadas a áreas abertas, que recebam bastante sol, não conseguem se adaptar em áreas florestadas".

Na terra do Minuano, o vento que traz o frio do Sul, o trabalho do peão tocando o rebanho é algo além de um Bioma poetizado numa imagem: É a nossa canção do coração.  

                                                                                                                              

* Carlos Alberto Potoko - Escritor fronteiriço