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Humor é coisa séria - Apresentação do Autor E-mail
Além da Letra - Depoimentos

 

                                                                                                                           Abrão Slavutzky *


Nunca se sabe quando começa um livro, e, geralmente, essa questão não é importante. Mas neste caso talvez seja. Creio que tudo começou quando eu tinha uns quatro anos, e meio metro de altura. De cima de uma cadeira, com os olhos arregalados, via o Vagabundo de Chaplin no cinema. Vibrava com suas piruetas e astúcias, fiz dele um herói. Assim foi o início

do entusiasmo pela arte do humor, que se seguiu pelo humor brasileiro, judaico, argentino. Atualmente, acompanho Woody Allen, que, numa de tantas entrevistas, afirmou: “As pessoas me gozam e dizem: ‘Tu, com tanta psicanálise, és tão neurótico’. E eu poderia responder-lhes: ‘Tive uma vida produtiva, trabalhei duro, nunca caí numa depressão e não sei se poderia fazer tudo isso sem análise’.” Aliás, Allen está, há 40 anos, em análise! O humorismo e a psicanálise se casaram nele. Este livro busca

ser uma ponte entre o peso da psicanálise e a leveza do humor. Humor é coisa séria, mesmo sendo engraçado. Tem o poder de

abrir portas e corações, excita a vida e, se não salva, pode aliviar. Muitos pensam que o humor não é sério, esse é o problema. Na verdade, ele ultrapassa a seriedade e assim chega à quintessência da sabedoria. A atitude humorística enfrenta o mundo real sem abandonar o terreno da saúde. Para quem pensa ser um exagero tudo isso, convido a ler o capítulo “Humor no Holocausto”. Uma sobrevivente dos campos de concentração afirmou que a criação de piadas foi indispensável para os presos permanecerem humanos e resistirem. O psiquiatra Viktor Frankl, prisioneiro em Auschwitz, escreveu: “O humor foi uma arma

na luta pela autopreservação”.


O humor é uma síntese de duas verdades: a trágica e a cômica — e assim constrói uma terceira verdade. Revela, dessa maneira, os para

doxos da existência: com um olho sorri e com o outro deixa cair uma lágrima. Graças ao humor, é possível enfrentar o dia a dia neste mundo meio louco. É uma vacina que ajuda a viver, com doses moderadas de ceticismo. Ele escapa à opressão da dor, como escreveu Carlos Drummond de Andrade: “O primeiro amor passou./ O segundo amor passou./ O terceiro amor passou./ Mas o coração continua...// Algumas palavras duras,/ em voz mansa, te golpearam./ Nunca, nunca cicatrizam./ Mas e o humour?”. Aliás, amor com humor é o paraíso, mas na França se diz: “E o amor? É uma loteria? Não, na loteria se pode ganhar.” Freud escreveu um livro sobre a piada e sua relação com o inconsciente. No fim da vida, exaltou o humor como um dom precioso e raro. Um elogio e tanto desse sóbrio pensador que revolucionou os estudos sobre a condição humana. O humor diz mais do que se imagina ao revelar o outro lado de tudo, e os humoristas poderiam ser considerados os sábios engraçados da atualidade. O sentido de humor gera um estranho gozo: permite desfrutar da certeza de que não há certezas! O humor é sério mesmo sendo um andarilho, um vagabundo sem propriedade.

Está sempre a caminho, sem alvo, vive exilado, mas é a mais simpática das criações.


As raízes da criação do humor ocorrem na criança, desde um ano e meio de idade, como se lerá no capítulo “O humor infantil”. Há também, neste livro, estudos sobre o engraçado inconsciente, ou sobre a possibilidade de melhorar o sentido do humor frente a tantos opositores. E não poderiam faltar a piada, o sexo e a morte, três palavras essenciais, bem como saber alguns dos segredos do humor. Apesar de haver um sumário, cada leitor pode seguir sua ordem ou desordem, pois, em se tratando de humor, é indispensável ser rebelde. Se não é possível mudar o mundo, que se mude a vida. Humor é coisa séria, e sua rebeldia inquieta os fanatismos    

Não por acaso, os regimes autoritários perseguem os humoristas. A magia do humor movimenta a realidade, seu encanto diminui o

desencanto, sua graça alivia a desgraça. O sentido do humor expressa o entusiasmo de brincar e assim aumenta a potência de viver. Potência que dá brilho ao mundo, visto agora sob um novo ponto de vista, outra lógica, costurado pelo fio da leveza. Um fio feito de um ceticismo      esperançoso iluminado por uma ilusão criativa que permite não se adaptar à vida como ela é. Talvez, só com humor para perceber a beleza e as maravilhas do mundo. No início desta apresentação, escrevi que o humor abre portas e corações, mas, sendo um afrodisíaco, também abre o erotismo. Estão abertas, agora, as portas do livro, sejam bem-vindos. A todos, os votos de bom humor.

 

 * Abrão Slavutzky é Psicanalista e Escritor. Autor, com Cyro Martins, de Para início de conversa.

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[ORELHA] 

Este livro nos apresenta um panorama inédito e provocativo a respeito de um tema injustamente negligenciado: o revolucionário poder do humor. Resultado de quatro décadas de estudos e vivências, Humor é coisa séria tem o alcance de um tratado, mas em nenhum momento o autor se deixa trair pela sisudez. O fio condutor é a leveza, e assim Abrão Slavutzky discorre com maestria sobre a história cultural do humor, sobre a sabedoria de Dom Quixote, sobre o pavor que o autoritarismo sente dos humoristas. E ainda analisa o humor como centelha para o sexo, como antídoto para o desamparo e como amparo perante a morte.

 A pesquisa é profunda e documentada, em saltos interpretativos que vão e voltam de Freud a Woody Allen, de Hamlet ao Analista de Bagé – tudo permeado por piadas ou histórias engraçadas. Como o leitor irá logo descobrir, Slavutzky acrescentou à vasta pesquisa um tanto de memória – e assim podemos acompanhá-lo, ainda menino, enquanto descobria a força libertadora dos filmes de Chaplin. O autor também expõe, de modo por vezes comovente, seus próprios entraves emocionais, cuja superação através do humor começou num consultório em Buenos Aires, passou pelo célebre consultório de Cyro Martins em Porto Alegre, prosseguiu no aprendizado incessante com seus próprios pacientes e resulta, agora, nesta obra.  

Humor é coisa séria é um livro para toda e qualquer pessoa que já tenha sentido a fundamental necessidade de sorrir diante dos assombros e das tristezas da vida – como fizeram os judeus que utilizaram o humor como recurso de sobrevivência nos campos de concentração nazistas, como nos ensina um dos mais instigantes capítulos desta obra. Parafraseando Italo Calvino, um dos autores prediletos de Abrão Slavutzky: num mundo pleno de tragédias, devemos tentar identificar aquilo que, em meio ao trágico, é tragicômico ou cômico, e preservar o humor.

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