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Mensagem para o leitor

Fábio Varela Nascimento


            No início do segundo semestre de 1939, Enquanto as águas correm, o terceiro livro de Cyro, acabava de ser lançado. O romance de Isidro marcava não só uma crescente preocupação do autor com a construção interna dos seus personagens, mas também um retorno à Livraria do Globo, a segunda editora mais importante de sua carreira – a primeira foi a Movimento. Depois da publicação de Campo fora, em 1934, interesses profissionais levaram Cyro ao Rio de Janeiro e foi lá, em 1937, que se deu, pela Ariel, a edição de Sem rumo.Com a volta ao selo Globo, o nome de Cyro se vinculava a um catálogo reconhecido e contava com uma Seção Editora organizada, estruturada, em condições de fazer circular suas obras e seu nome.

O nome de Cyro, aliás, não poderia mais figurar entre os dos estreantes. Ele já estava alguns passos à frente e, mesmo que não tivesse cravado uma posição firme no cenário literário gaúcho, gozava de certa projeção. Por causa disso, ele foi um dos escritores convidados pelo Correio do Povo para participar, em 1º de agosto de 1939, da enquete “Literatura dá para viver?”. Na edição anterior, o jornal fizera a pergunta a Erico Verissimo, Vianna Moog, Athos Damasceno Ferreira e Reynaldo Moura, que defenderam “os mais variados pontos de vista”. No dia 1º, Cyro, De Souza Júnior e Manoelito de Ornellas foram interpelados. Cyro, o mais novo dos entrevistados, foi abordado quando chegava ao seu apartamento, na Duque de Caxias, depois de cumprir o expediente no Hospital São Pedro. Frente ao questionamento, ele resolveu falar por si: “Apesar de já ter publicado três livros, ainda sou estreante em matéria de ‘finanças literárias’, o que vale dizer que, quanto a dinheiro, os livros até hoje têm me dado mais prejuízo do que lucro”. Ele também afirmou que não se envergonhava dos prejuízos, que aprendeu a não avaliar o “mérito de um escritor pelas vantagens monetárias que os seus livros lhe proporcionem”. Mesmo admitindo cair em um lugar comum, Cyro advertiu que “o desejo e o orgulho de ganhar dinheiro com o que escreve não devem dominar a mentalidade do escritor, com prejuízo da excelência da produção”[i].

Cyro queria escrever, publicar e chegar ao leitor. Ganhar dinheiro com a literatura não estava no seu horizonte de expectativas. Se recebesse alguma coisa, maravilha; se não recebesse, sem problemas. O contrato de edição de Mensagem errante, firmado em 23 de abril de 1942, ilustra essa posição.


Anexo 1 / Anexo 2            
Acervo Cyro Martins/Delfos-PUCRS


Pelo acordo, o autor cedia aos editores “o direito de publicar, reproduzir e difundir em língua portuguesa o livro de sua propriedade” – Mensagem errante – cujos originais foram entregues no ato da assinatura do contrato. A Globo poderia decidir o “tipo da impressão” e tudo que dissesse respeito “à forma material de apresentação do livro” e ao seu preço de venda. A impressão inicial do livro seria de 2000 exemplares, sendo que o autor teria o “direito de receber gratuitamente 30”. Ele ainda era obrigado a fazer “emendas e alterações necessárias” na obra, sem qualquer tipo de indenização. A cláusula referente aos pagamentos era clara:“Os editores pagarão ao autor, pela edição ora contratada, a percentagem de (10%) DEZ por cento sobre o preço de venda”. Ele só receberia o percentual “depois de vendidas DUAS TERÇAS PARTES da impressão inicial” e, daí para a frente, “por ocasião do Balanço dos editores, em Setembro de cada ano, na proporção dos exemplares vendidos”.[ii]

                Como era de se imaginar, Cyro continuaria a não ganhar dinheiro com a sua literatura, mas isso não importava. O que interessava é que sua mensagem chegaria, de algum modo, ao leitor.



[i] As referências à enquete foram retiradas de: LITERATURA DÁ PARA VIVER? Correio do Povo, Porto Alegre, p. 7, 1º/08/1939.

[ii] Todas as citações foram retiradas do documento “Contrato de Edição” (2 folhas), localizado no Acervo Cyro Martins (Caixa 18, número de tombo 6576).