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UM LIVRO PARA REVER CYRO MARTINS E-mail
Fortuna Crítica - Artigos

 

 

 Aldyr Garcia Schlee *

 

Há livros só para ler; outros para ver; outros, ainda, para ler e ver; para admirar, para folhear devagar, para guardar cuidadosamente e não esquecer, CYRO MARTINS 90 ANOS ** é destes; e mais ainda: não é um livro para ser lido, apenas; um livro que se folheia com prazer; ou que se aprecia e que depois se deixa na estante. É um livro para ser visto, também: um livro-oportunidade de palavras e imagens em que se vê e se revê Cyro Martins como era, como foi e como será sempre para seus amigos, colegas e leitores. Este é um livro que se lê e se vê, que se relê e se revê, e que se guarda com carinho, como relíquia, lembrança viva da memória do grande escritor e psicanalista gaúcho falecido em 1995.

Trata-se de uma imperdível e originalíssima reunião de textos e material iconográfico, produzidos para o simpósio Cyro Martins 90 anos, para a "biografia visual" Cyro, o transfigurador do óbvio e para a exposição Olhares sobre Cyro, eventos realizados em 1998, quando o autor faria 90 anos.

Maria Helena Martins, filha do escritor e organizadora do livro, explica na apresentação deste que o que poderia ser "um memento, constitui-se em mostra genuína de relevantes autores gaúchos, num conjunto de peças independentes porém interagentes, dialogando com palavras e imagens de Cyro Martins de modo a permitir a cada leitor lembrar ou conhecer um pouco do homem, do escritor, do psicanalista e vislumbrar o humanista que ele foi".

Esse livro-oportunidade de rever Cyro, além de reproduzir a "biografia visual" do autor Cyro, o transfigurador do óbvio - preparada pela artista plástica Liana Timm (responsável também pelo design e pela produção gráfica da obra), conta com excelentes ensaios sobre a figura humana e a personalidade pública de Cyro, sobre a constituição do escritor e seus caminhos, sobre sua condição de ficcionista e psicanalista, sobre os desdobramentos de seu trabalho. Tudo acompanhado de emocionados e reveladores depoimentos de amigos, colegas, leitores, admiradores, complementado por uma cuidada síntese biobibliográfica e entremeado de reproduções de obras de arte, as produzidas por uma dúzia de artistas que lançaram seus Olhares sobre Cyro, expondo o resultado em 1998, sob curadoria de Clara Pechansky.

Nesse livro, começamos recordando com Luiz Carlos Meneghini, uma agachada típica (e definidora) de Cyro Martins: vez que outra é bom ir ao encontro de nossas visões, as dos fantasmas evanescentes que ficaram para trás e as que ainda nos fascinam, abrindo clareiras nos esconderijos do porvir. Mas o ideal mesmo é a gente não poder jamais se sentir em fim de festa e experimentar o gosto de viver no devir do dia-a-dia, infinito recomeçar da criação.

Nesse livro, Moacyr Scliar nos repõe diante do doutor Cyro - o escritor, o amigo, o terapeuta - e de toda a sua amabilidade e desenvoltura. Carlos Jorge Appel recompõe a trilha do "gaúcho a pé", demonstrando que Cyro tinha a ousadia de revisar e reavaliar as idéias dos outros, inclusive de Freud. E Tânia Franco Carvalhal nos fala de Cvro apegado ao local, pelos temas, mas refletindo universalmente sobre a condição humana; José Clemente Pozenato demonstra como a ficção de Cyro faz uma revisão histórica da imagem do gaúcho; Sandra Jatahy Pesavento reconhece que essa ficção encarou, muito antes da historiografia, o drama do proletário dos pampas progressivamente expulso do latifúndio pecuarista; Ligia Chiapini mostra como Cyro filtra tal realidade pelo olhar irônico de um narrador distanciado que, mesmo quando mergulha na mente de seus personagens, não perde a distância e está sempre pronto para nos fazer rir do ridículo; Solange Ketzer recoloca-nos na trilha metafórica do gaúcho sem cavalo, do gaúcho desmontado por Cyro Martins; e Luiz Antonio de Assis Brasil reconhece e demonstra a capacidade de Cyro para tecer a trama narrativa a partir das próprias experiências existenciais, jamais tendo por meta estabelecer novas verdades, mas sim novas ficcionalidades humanas. Para completar, Isaac Pechansky e Roberto Bittencourt Martins fazem suas revelações sobre o psicanalista e ficcionista Cyro Martins. E há ainda textos de Léa Masina, Theobaldo Thomaz, Antonio Hohlfeldt, Donaldo Schüler, Gley Costa e David Zimerman sobre desdobramentos da obra de Cyro.

No livro estão registrados, igualmente, breves depoimentos de Horácio Etchegoyen, Claudio Laks Eizirik, Décio Freitas, Abrão Slavutzky, Sérgio Paulo Annes, Clara Pechansky, Liana Timm, Cláudio Martins, Mario Röhnelt, Luiz Carlos Mabilde, Miriam Tolpolar, Carlos Gari Faria, Marilice Corona, José Onofre, Marta Loguercio, José Blaya Perez Filho, Carlos de Britto Velho, Alfredo Nikolaiewsky, Mauro Gus, Bina Montheiro, Paulo Martins Machado, Carlos Wladimirsky.

Os artistas que contribuem com seu olhar para que, nesse livro, possamos reencontrar e rever Cyro Martins, são Miriam Tolpolar, Carlos de Britto Velho, Marta Loguercio, Alfredo Nicolaiewsky, Mario Röhnelt, Marilice Corona, Bina Montheiro, Eduardo Haesbaert, Gelson Radaelli, Carlos Wladimirsky, Ubiratã Braga, além de Liana Timm.

De tudo e de todos, na leitura desse livro, fica também o dizer de Cyro Martins: na literatura de ficção geralmente transparece a face oculta das pessoas, comuns ou diferenciadas, com as quais cruzamos ou convivemos no decurso da existência. Ao homem interessa sempre o homem. Quando apanhamos um livro para ler é sempre com a intenção de descobrir meandros da alma alheia, para não confessar que, na verdade, estamos interessados em nós mesmos.

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* Aldyr Garcia Schlee é escritor e tradutor gaúcho  bilingue ( português e espanhol), traduziu Campo Fora, de Cyro Martins para o espanhol: Campo fora/Campo Afuera.

**CYRO MARTINS 90 ANOS é uma co-edição Centro de Estudos de Literatura e Psicanálise Cyro Martins/Instituto Estadual do Livro/CORAG.Porto Alegre, 1999.