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Entrevista com Malu Zoega de Souza E-mail
Além da Letra

 

 

                            Malu brindando                    

A Professora Doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP, Malu Zoega de Souza aborda nesta Entrevista questões como  a redação de textos na  escola e para a internet, sublinhando - ao contrário de posturas apressadas -  os efeitos positivos que a web pode produzir; a redação no vestibular e seus requisitos; o exercício da escrita na web, exigindo mais de  adolescentes e adultos e incentivando-os a escrever e ler.  Seu trabalho é constantemente atualizado e testado, por ela e por aqueles que buscam seu espaço Escrita & Escuta para aprimorar textos e desenvolver  possibilidades leitoras. 

 

  • MHM - Que diferenças básicas encontra nos textos escritos pelos estudantes de hoje e aqueles com quem trabalhou na escola?

Malu -Difícil a comparação. Eu trabalhava com o que então se chamava escola de primeiro grau. Os alunos eram pré-adolescentes, e seus professores lidavam com a escrita deles antes do computador. Não era comum que esses alunos escrevessem por escrever. Hoje, eles escrevem o dia inteiro em seus celulares, em seus computadores, sendo ou não “ letrados” , se assim posso dizer. Naqueles tempos, geralmente escreviam  o que a escola pedia. Uns faziam bem; outros, não. Quando abri meu “escritório de escrita”, os alunos que me procuravam eram  adolescentes enviados pela escola porque tinham dificuldades com o texto escrito. Hoje, trabalho com alunos  – a maioria adultos – que me procuram para construir suas monografias, dissertações de mestrado, teses. E aquilo que hoje chamam de escrita criativa: contos, crônica, narrativas longas, poemas...  Muitos vêm até mim porque passaram a escrever na/para a  Internet. Vêm não só porque querem correção, mas porque de certa forma  desejam discutir sua escrita. Vêm porque fundamentalmente querem escrever.    Penso que, hoje, escreve-se muito mais que antes.

MHM - O que acha que seria mais importante a escola atual ensinar/exercitar com relação à escrita?

Malu - Penso que é justamente a relação entre o escrever e o ler.

  • MHM - Em que medida leitura e escrita deveriam interagir na escola?

Malu - Quando se fala em escrita, fala-se de leitura e de produção de textos. Na escola, os leitores dos textos escritos pelos alunos não deveriam ser apenas os professores; assim também, a leitura de outros autores deveria ser motivo de conversa entre professores, alunos  e motivo também para a escrita de outros textos.  As pessoas comuns que escrevem hoje  na internet têm mais oportunidade de que seus textos sejam lidos não só por seus pares...

 

  • MHM - A internet ensinaria a escrever mais que a escola ou a necessidade de "saber ler e escrever" seria hoje mais impulsionada pela web do que pelas exigências da escola em função da grande diferença entre uma e outra em face de expectativas dos alunos?

Malu -Difícil generalizar: há escolas e escolas. Há escolas em que a internet já se incorporou  como instrumento fundamental não só para informação,  mas, principalmente,  pelas possibilidades  que oferece de se  relacionarem informações/conhecimentos/temáticas  por meio de diversas linguagens, gêneros,  estilos ... Há outras escolas, entretanto, em que os alunos lidam com ela absolutamente sem a companhia de seus professores.  A internet pode ser  uma parceira excepcional dos professores e dos alunos.

  • MHM - Como vê o entendimento dos jovens vestibulandos quanto ao  conteúdo/formato/ponto de vista exigidos no texto da redação?

Malu - A redação de vestibular parece que se tornou um gênero específico. Geralmente se pede um texto dissertativo argumentativo, a respeito de um tema sugerido  e, de certa forma,  encaminhado por outros textos. A orientação de vários cursinhos tem sido a de que o candidato apresente já no primeiro parágrafo “uma tese” a respeito desse tema, e desenvolva, a seguir, os seus argumentos em defesa dessa tese.  Aconselha-se que o texto não seja escrito em primeira pessoa.

A ideia de “tese” assusta os jovens: parece que têm de resolver o problema posto com tal seriedade  e certezas que um texto de trinta linhas não permite desenvolver, assim como não  conseguem abarcar o tema proposto, diante de sua pouca idade  e experiências de vida e de leituras  Além disso, o fato de ser dito que não se deve escrever em primeira pessoa  costuma levá-los a um afastamento de si mesmos, sem  antes refletirem sobre o que “realmente pensam “ a respeito do assunto. E eles se soltam só quando percebem que o texto pode ser construído (em primeira pessoa ou não) sem a dimensão  de uma grande tese – o que importa é articulação formal coerente de algumas ideias acerca do proposto. Selecionam e organizam, então, várias possibilidades de arquitetarem seu texto, que pode conter suas dúvidas e, às vezes, suas certezas.   Esses problemas de escrita podem ser então trabalhados nessas aulas "fora da escola" mais espontaneamente, no espaço da Escrita & Escuta, mais perto das questões e  expectativas que os cercam.

  • MHM - Os temas  propostos têm sido pertinentes considerando a realidade brasileira?

O domínio da escrita/da redação propriamente dita, tem sido devidamente avaliada?

 

Malu - Acho que  sim. Pelo menos no que diz respeito ao exame da  FUVEST e do ENEM, que acompanho mais de perto.

                                                                                                                               São Paulo, março de 2015

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