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A BELEZA ROUBADA DE PORTO ALEGRE  E-mail
Além da Letra

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cais Mauá 7

 


Barbara E. Neubarth *


Abrir os olhos a cada manhã e antes de sair da cama observar um frondoso angico é, no mínimo, inspirador. Contudo, a posterior imersão no turbulento espaço da cidade acaba se tornando um exercício de troca acelerada entre o belo e o feio. Em especial, pela invasão de construções de gosto e necessidades duvidosos que deixam o espaço urbano saturado. Tal ocupação desenfreada marca o contemporâneo e é responsável, a partir do excesso de suas construções, pela derrocada de um modelo de cidade humanizada. Cidade que cultiva lugares próprios à beleza do vazio, como tesouro de possibilidades. No clássico Morte e vida das grandes cidades (1961) Jane Jacobs afirma que: “ O manto de sombra de um prédio alto funciona como um enorme apagador de seres humanos.”

 

Porto Alegre vem se transformando numa cidade cujo horizonte não é mais o sol e o céu, mas são imensas paredes de concreto de prédios extremamente altos. Nessa nossa cidade, a consequente invisibilidade das pessoas é resultante de ações pragmáticas que substituem a reflexão levando ao rápido envelhecimento do patrimônio. Tudo isso, fruto de uma política equivocada e autodevoradora.

 

Tenho convicção de que essa não é uma questão nostálgica ou idílica. Apoiada na leitura de Cidades Para Pessoas (2013), de Jan Gehl, aprendi como neste séc. XXI, grandes cidades como Copenhague, Melbourne e Nova York buscam recuperar cinquenta anos de negligência com a dimensão humana. E com que urgência tais cidades convidam à circulação de pedestres, em que os espaços ao nível dos olhos são essenciais e decisivos para a qualidade de vida. E tudo isso não é mais oneroso, ao contrário, tem um custo menor e potencialmente qualificado.

 

Assim, propor edifícios para a orla do Guaíba é de arrepiar e nos deixar tal como aquele personagem que, ao ser surpreendido pela sombra de seu predador, quer sair correndo. Consigo imaginar os malefícios causados pela enorme sombra dos prédios projetados e que nos levaria a nos afastar do rio. E, entre outras questões, fugir da força do vento que é um problema sério perto de prédios altos.

 

Com certeza o deslocamento e presença do corpo no espaço - a escala humana - é indispensável para a formação da paisagem, como ponto de vista, situação, orientação e distância. Por isto, na dúvida, como afirma Gehl (2013): reduza o tamanho.

 

Certamente ainda há tempo!

 

 

* Barbara E. Neubarth é Psicóloga, Doutora em Educação, Bacharelanda em Artes Visuais  (UFRGS)